
A imagem pertence a
Bronco Billy (1980), sem dúvida um dos mais esquecidos filmes de (e com) Clint Eastwood — é também um dos que faz mais sentido evocar a propósito de
Gran Torino (estreia quinta-feira, dia 12). Sétima longa-metragem dirigida por Eastwood — estreou-se em 1971, com
Play Misty for Me/Destino nas Trevas —,
Bronco Billy é uma das primeiras a colocar, na sua duplicidade histórica e simbólica, a questão da decomposição dos modelos clássicos de um certo heroísmo
made in USA.

Basta dizer que ele interpreta o proprietário e actor de um circo ambulante que, em pleno século XX, já não encontra o eco popular, nem comercial, que a sua mitologia poderia garantir. O tema fulcral do circo é o próprio Oeste, como se Eastwood fosse um
cowboy sobrevivente, condenado a uma nova forma de solidão. Há aqui, além do mais, uma revisão de amarga ironia da personagem que Eastwood assumiu nos filmes de Sergio Leone (incluindo
O Bom, o Mau e o Vilão), em meados da década de 60. E se é verdade que, como veremos,
Gran Torino aposta num realismo social particularmente contundente, não é menos verdade que entre os protagonistas de ambos os filmes se desenha uma subterrânea cumplicidade — ambos têm que lidar com um mundo que, decididamente, já dispensou o seu padrão de heroísmo.