No jornalismo, sempre me pareceram incorrectos os discursos que, a partir da "cultura", tentam difamar a área do "desporto" (tal como, obviamente, os de sentido inverso). Acima de tudo, não creio que um ponto de vista meramente moralista nos leve muito longe — é preciso compreender e discutir cada intervenção jornalística sem omitir o seu contexto e a especificidade das linguagens que aplica.
Por isso, considero no mínimo curioso que haja um estilo jornalístico que valoriza os movimentos financeiros como sintoma automático de alguma criatividade desportiva. Veja-se a manchete de hoje do jornal A Bola: "Benfica já no mercado" significa que se celebram novos investimentos como sinal directo e inequívoco de uma potencial valorização desportiva.
Por isso, considero no mínimo curioso que haja um estilo jornalístico que valoriza os movimentos financeiros como sintoma automático de alguma criatividade desportiva. Veja-se a manchete de hoje do jornal A Bola: "Benfica já no mercado" significa que se celebram novos investimentos como sinal directo e inequívoco de uma potencial valorização desportiva.
Não se trata de discutir princípios de organização estrutural, sistemas de formação desportiva, eventualmente estratégias e tácticas de jogo (e escusado será dizer que o facto de o assunto remeter para a equipa A, B ou C é irrelevante). Nada disso. Assim, em momento de crise — económica, hélas! — a assolar o planeta, a vitalidade futebolística parece garantida porque uma determinada equipa... já está no mercado. A perversidade simbólica é, convenhamos, fascinante: eis uma visão do futebol para a qual a economia é uma festa. E um conceito jornalístico em que uma notícia se pode confundir com a utopia do "era uma vez..."