Drumming, de 1971, é, apesar de tida como uma obra de transição, uma peça central na história de Steve Reich (n. 1937). Peça para instrumentos de percussão e vozes, foi a última das obras de uma etapa inicial na qual o compositor norte-americano centrou a sua atenção no desenvolvimento do conceito de “phasing”, que criara e desenvolvera nos anos 60. Em linhas simples, este conceito parte do facto de dois (ou mais músicos, ou gravadores) partirem de uma frase musical original, tocada em uníssono, um deles depois atrazando o “tempo”, colocando as frases numa situação de “desfazamento”, podendo depois, eventualmente, regressar a ouvir-se em “fase”... Drumming nasceu na sequência de uma viagem que Reich fez ao Gana (na África Central), durante a qual foi acompanhado pelo mestre percussionista Gideon Alerwoyie. Na mesma altura, em Seattle, estudou gamelão (instrumento muito usado na música do Bali, na qual se exploram padrões de repetição). Da assmiliação destas experiências surgiu esta obra que, distinta das peças mais complexas que criou depois, se destaca já da austeridade mais evidente das que compusera nos anos 60. Data desta altura a criação de um ensemble (o Steve Reich and Musicians), que lhe permitiu assim a interpretação ao vivo desta e outras obras. É de referência a gravação que Steve Reich e o seu ensemble fizeram desta obra, editada em 1987 pela Nonesuch.
Um dos quatro “pilares” do minimalismo norte-americano (os outros três sendo La Monte Young, Terry Riley e Philip Glass), Steve Reich nasceu em Nova Iorque, onde ainda hoje vive. Depois de ter estudado com, entre outros, Luciano Berio e Darius Milhaud, Steve Reich foi fortemente influenciado por Terry Riley, com quem chegou a trabalhar em inícios dos anos 60, tendo estado directamente ligado à estreia mundial do hoje “histórico” In C. Pouco depois estava a explorar, num outro contexto, reflexões semelhantes sobre padrões musicais. As primeiras manifestações claras de novas ideias manifestam-se em 1965 e 66, respectivamente em It’s Gonna Rain e Come Out, trabalhos de manipulação de gravações, nos quais cria e explora, pela primeira vez, o conceito de “phasing”. Depois de Drumming (1971), procurou outros horizontes e desafios, criando obras para pequenos e grandes ensembles, mais tarde orquestras e voz, e em alguns casos retomando uma antiga ligação com o trabalho de fita magnética.
Drumming tem uma duração que se pode calcular entre os 55 e 75 minutos, em função do número de repetições pretendido pelos músicos. Explorando não apenas as batidas, mas também as pausas, a peça divide-se em quatro partes, cada qual com conjuntos diferentes de instrumentos, todos eles depois reunidos na última. A obra é frequentemente interpretada em palco por ensembles de percussão, acompanhados por um pequeno coro. Há também ocasiões nas quais a performance é acompanhada, no mesmo palco, por uma coreeografia. Laura Dean e Anne Teresa de Keersmaeker já colaboraram em coreografias para performances dirigidas pelo próprio Steve Reich.
Imagens da primeira parte de Drumming, a mais austera das quatro que a constituem, mas na qual é fácil reconhecer o efeito de “phasing” que a composição explora. A actuação cabe a elementos do Ensemble 64.8, registada em Fairbanks, no Alasca.