Numa mesma altura em que chega ao mercado o absolutamente espantoso Being Dufay, de Ambrose Field, um disco que “transfigura” a memória da obra de Guillaume Dufay (recontextualizando-a num espaço criado por ferramentas electrónicas), assistimos ao lançamento de um outro disco no qual se assegura um outro contacto mais canónico com esse mesmo compositor dos finais da Idade Média. Contemporâneo de Gilles Binchois e Johannes Ockeghem, Dufay (1397-1474) revelou na sua música sinais que antecipavam estilos e ideias que floresceram pouco depois no Renascimento. Foi talvez o mais admirado compositor em meados do século XV, tendo a sua obra abordado os géneros musicais conhecidos na sua época, dele tendo chegado aos nossos dias algumas missas, motetes e cançõe profanas. De origem flamenga, Dufay foi corista em Cambrai (França) na juventude, a sua vida passando mais tarde por várias cidades e patronos. O disco agora editado pelo Binchois Consort, dirigido por Andrew Kirkman, Dufay & The Court Of Savoy (ed. Hyperion) evoca um dos três períodos entre as décadas de 30 e 50 do século XV durante os quais trabalhou para o Duque de Sabóia. Essa foi uma época de propsteridade para o ducado, tendo as artes sublinhado, pela vitalidade da criação, o ambiente político e económico. O disco apresenta como pela central a Missa Se La Face Ay Parle, que se julga ter sido composta à volta de 1450. O alinhamento é concluído com uma canção e dois motetes, um deles (O Très Piteulx) assinalando a queda de Constantinopola (1953), devendo ter sido composto um ou dois anos depois do acontecimento (que marcou o fim da Idade Média).
Outros lançamentos:
Numa ano decisivo para a definitiva afirmação da sua carreira (uma vez que em Outubro assume o lugar de director artístico da Filarmónica de Los Angeles), o venezuelano Gustavo Dudamel edita mais um disco à frente da orquestra que o revelou: a Simón Bolívar. Depois do aclamdo Fiesta!, de 2008, Dudamel regressa a repertório “clássico”, gravando a 5ª Sinfonia de Tchaikovsky. No booklet, o maestro explica haver uma relação antiga entre os músicos do sistema de orquestras venezuelano e o compositor russo, sendo algumas obras deste uma presença regular em exercícios vários em diversas etapas do programa de aprendizagem. A abordagem da orquestra traduz a exuberância que lhe conhecemos já de outras gravações nomeadamente, além de Fiesta!, a 5ª de Beethoven que editaram, também pela Deutsche Grammophon, em 2006. O alinhamento conclui com Francesca da Rimini.
Chega também ao mercado o segundo volume da série que o maestro John Eliott Gardiner está a dedicar à obra de Johannes Brahms (1833-1897). Meses depois de uma magnífica Sinfonia Nº 1, apresenta agora a segunda, tal como a primeira num alinhamento que junta algumas pequenas obras corais, uma da autoria do próprio Brahms (Alto Rhapzody), as outras três de Schubert, mas aqui apresentadas em arranjos seus. Gardiner já explicou que está a promover esta abordagem ao legado da obra sinfónica de Brahms tendo em particular conta ao que considera ser a “vocalidade intrínseca” à forma como o compositor escrevia para orquestra. A Sinfonia Nº 2 é substancialmente diferente da primeira. “Mais relaxada e amena”, como o maestro a descreve numa entrevista que (tal como no volume anterior) surge no booklet. Nota de destaque, novamente, para a magnífica capa, que usa como fundo Déjà Vu, Déjà Blue (2004), de Howard Hodgkin.