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Os filmes falam sempre para o seu tempo. Valquíria surge-nos no momento em que o Vaticano acaba de ordenar ao bispo Richard Williamson que retire as suas afirmações segundo as quais os nazis não mataram judeus em câmaras de gaz. A própria chanceler alemã, Angela Merkel, veio a público exigir uma clarificação “sem ambiguidades”. Claro que o filme de Bryan Singer não é sobre esta situação. Mas é sobre um valor que com ela se envolve. A saber: o continuado trabalho da memória, recusando a sua cristalização em clichés redutores.
O cliché que Valquíria combate é o da imagem unívoca dos nazis como um colectivo absolutamente uniforme (imagem frequente, importa reconhecê-lo, nos clássicos filmes de guerra dos anos 40/50). A história da conspiração para matar Adolf Hitler abre para a necessidade de compreensão de uma Alemanha em conflito consigo própria, com todos os traumas simbólicos que isso envolve (e que continuam a ecoar no presente).
Além do mais, o facto de este ser um dos primeiros projectos da United Artists com gestão de Tom Cruise (um ano depois do fabuloso Peões em Jogo, de Robert Redford) ajuda-nos a perceber que a sua imagem de vedeta “juvenil” é outro cliché que importa repensar.