Fim de tarde de sereno lirismo no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian: Elina Garanca passou por Lisboa, mostrando por que é, e como é, um dos mais extraordinários novos valores no panorama actual das mezzo-soprano. Acompanhada ao piano por Charles Spencer, o seu concerto deixou as marcas de uma versatilidade tecida de delicadas nuances, sem nada de ostensivo, desde a tradição romântica do lied, com assinatura de Brahms e Schumann, até ao calor das canções populares espanholas de Manuel de Falla — isto sem esquecer, claro, a deriva italiana com a sensualidade de La Regata Veneziana, de Gioacchino Rossini, e ainda as canções de Jazeps Vitols e Alfreds Kalnins, dois compositores do seu país (Letónia).
Figura em momento de claríssima ascensão, não apenas no circuito internacional do canto lírico, mas também no catálogo da Deutsche Grammophon, Garanca alia à excelência do seu canto um elaborado sentido dramático da pose em palco, sabendo investir cada tema de uma teatralidade capaz de ampliar todas as suas emoções, ma non troppo. Em resumo: um concerto inesquecível.
>>> Elina Garanca num registo televisivo, interpretando uma ária ('Una Voce Poco Fa'), de O Barbeiro de Sevilha, de Rossini.