quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Jonathan Demme ou a herança de Cassavetes

Jonathan Demme continua a ser um dos grandes camaleões do cinema americano: à vontade na grande produção mainstream (O Silêncio dos Inocentes... et pour cause), ele é também alguém que, ciclicamente, regressa aos projectos "menores", feitos com a aparente ligeireza de um filme amador. Assim acontece agora, com o prodigioso O Casamento de Rachel, um mergulho agridoce nas convulsões de uma família, polarizada em torno da irmã "correcta" que se vai casar, Rachel (Rosemarie DeWitt), e a irmã "selvagem", Kim (Anne Hathaway), que sai da instituição onde tenta um processo de desintoxicação, precisamente para participar nas cerimónias do casamento.
Perdido no ambiente banalmente "competitivo" que passou a enquadrar os Oscars — Hathaway, como melhor actriz, tem a única nomeação do filme — O Casamento de Rachel corre o risco de ser secundarizado pelo ruído mediático fabricado em torno dos candidatos mais óbvios (cujo méritos, entenda-se, não estão por isso em causa). Digamos apenas, para simplificar, que Demme se vem situar numa tradição de trabalho, a meio caminho entre o melodrama clássico e a sensualidade realista de algum cinema moderno, que o remete, e nos remete, para a luminosa herança de John Cassavetes. Não é pouco. E, sobretudo, não é indiferente.