terça-feira, fevereiro 17, 2009

Em conversa: Johan Jóhansson (1/3)

Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com o músico islandês Johann Jóhansson, que serviu de base a um artigo publicado no suplemento DN Gente a 6 de Fevereiro.

Teve uma educação clássica?
Não. Estudei piano e trombone... Mas comecei a tocar em bandas. Tocava guitarra, depois comecei a usar electrónicas e computadores. Na universidade estudei literatura. Não era ainda certo que teria um futuro como músico... Mas estava sempre a fazer música.

O que escutava então?
Sempre tive um gosto muito diversificado. A música que tocava quando tinha 20 anos mostrava que tinha um interesse por bandas como os Jesus & Mary Chain ou os Suicide. Um som denso e minimal. Depois passei a interessar-me mais pela música electrónica e experimental num sentido lato. Ouvia compositores dos anos 50, música concreta... Essas descobertas alargaram mais o meu espectro de gosto. Nos anos 80 e 90 ouvi a música experimental que se estava a fazer... Foram importantes experiências formativas.

E como se relacionava com os nomes de referência de uma geração que levou as electrónicas à música popular?
Tenho irmãs mais velhas e ouvia os discos delas. E entre os discos delas (e dos seus namorados) havia Kraftwerk, Tangerine Dream, Neu... Ouvi essas músicas muito cedo.

Como islandês, como reagiu perante o reconhecimento internacionalo dos Sugarcubes, que representaram a primeira aventura globalmente bem sucedida de exportação de música islandesa?
Foi um acontecimento. E foi uma inspiração para muitos músicos islandeses. Houve sempre uma cena musical interessante na Islândia. E estávamos sempre à espera do dia em que algo acabasse mesmo por acontecer.

Como explica o facto de haver tanta gente a fazer música na Islândia?
Não sei se haverá apenas uma resposta que explique tudo. Uma das razões pode ser o facto de não termos uma história musical assim tão antiga na Islândia. Há por isso um sentido de liberdade. Por outro lado temos uma história de literatura mais antiga. São mil anos de sagas e poemas... Mas nunca uma tradição antiga de música ou de artes visuais. As pessoas sentem essa liberdade criativa... Sem sentir uma espécie de fardo pelo passado.

Daí talvez a diversidade...
A Islândia é muito pequena. Somos apenas 300 mil habitantes. Temos cenas de uma só pessoa. Não há necessariamente aquele conjunto de bandas que façam uma “cena”. E por isso as pessoas fazem muitas colaborações, trabalham juntas. Estão em três bandas ao mesmo tempo, a fazer filmes e artes visuais... Há uma polinização cruzada entre várias formas de criação artística. E tudo isto creio que justifica o ambiente especial que existe.

A música é tida como uma peça importante nos programas educativos?
Essa é outra das razões para explicar o que se passa. A educação musical, a um nível básico, é muito boa. Beneficiei disso. Eu e tantos outros músicos. Não sei explicar as raízes históricas desta política de educação, mas creio que remontam aos anos 60. Foi então criado todo um programa de escolas de música. Muitas pessoas vão depois depois para o estrangeiro para os estudos avançados, mas o básico é feito na Islândia. Há também uma grande actividade de músicos amadores. Há muitos coros... Em cada aldeia há um coro!
(continua amanhã)