segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Acção cultural — o que é?

Vale a pena ler a edição de Fevereiro dos Cahiers du Cinéma, em particular por causa do dossier dedicado a Clint Eastwood (e também para conhecer o magnífico texto de Cyril Neyrat, sobre O Estranho Caso de Benjamin Button, avaliando o modo como o filme de David Fincher desafia o cliché, ou o "pacto hollywoodiano", segundo o qual a imagem do passado é uma "imagem adquirida"). Interessantíssimas também são as considerações sobre os recentes Estados Gerais da Acção Cultural Cinematográfica e Audiovisual — o texto que se segue assinala esse acontecimento e foi publicado no Diário de Notícias (14 de Fevereiro), com o título 'Acção cultural'.

Recentemente, em Paris [sob a égide do CNC], foi organizado um forum de informação e discussão subordinado a uma eloquente designação: Estados Gerais da Acção Cultural Cinematográfica e Audiovisual. Podem ler-se interessantes informações sobre os debates no site dos Cahiers du Cinéma, uma das entidades participantes. No centro do acontecimento estava um princípio de trabalho que um texto publicado nos Cahiers resume de forma exemplar: trata-se de “instituir uma relação estética com os filmes por oposição a todas as formas de consumo”.
Num contexto como o português, dominado por essas formas de consumo (quase sempre sustentadas pelos mais banais discursos de origem televisiva), este é um acontecimento sobre o qual vale a pena reflectir. Porquê? Porque a defesa do cinema enquanto espaço cultural específico é uma questão sistematicamente adiada. E mesmo que a noção de “acção cultural” possa estar marcada por muitos traumas históricos, isso não é uma boa razão para nos alhearmos dos temas graves do presente. Logo, das hipóteses do futuro.