segunda-feira, janeiro 05, 2009

Zurlini, o desconhecido

Claudia Cardinale e Jacques Perrin, em A RAPARIGA DA MALA (1961)

Entre as mais recentes edições portuguesas em DVD, o caso de Valerio Zurlini é, sem dúvida, um dos mais importantes. De facto, ele é um daqueles autores que ficou "encravado", tendencialmente desconhecido, entre os restos do neo-realismo e a eclosão de nomes como Federico Fellini ou Michelangelo Antonioni. Ver ou rever os filmes de Zurlini agora editados é, por isso, acima de tudo, poder reavaliar uma estética — que era também uma ética — que nascia da confluência de dois factores fundamentais: por um lado, a necessidade de superar a lógica de redenção da matriz neo-realista, reabrindo às ficções à pluralidade da vida social nos anos 50/60, em particular na redifinição, individual e colectiva, do lugar da mulher; por outro lado, um gosto sistemático pelo reencontro com os padrões melodramáticos clássicos, agora "corrigidos" por algumas componentes realistas.
Um Verão Violento (1959) e A Rapariga da Mala (1961) são, nesses aspectos, filmes marcantes, tanto mais que se centram em subtis composições de Eleonora Rossi Drago e Claudia Cardinale, respectivamente (contracenando com dois nomes emblemáticos do cinema francês da época: Jean-Louis Trintignant, no primeiro caso, e Jacques Perrin, no segundo). Depois, temos ainda Outono Escaldante (1972), filme de um erotismo novo, curiosamente contemporâneo de O Último Tango em Paris, e O Deserto dos Tártaros (1976), a magnífica adaptação do romance de Dino Buzzati, com Jacques Perrin e Max Von Sydow — são razões fortíssimas para acertarmos as nossas memórias italianas.