Um dos mais aclamados maestros da actualidade, o inglês John Eliott Gardiner foi dos primeiros a compreender o mundo em mudança no panorama da edição discográfica. E em 2004 abriu a sua própria editora, a Soli Deo Gloria, através da qual já lançou 31 discos, com grande parte do catálogo dedicada à edição regular de gravações de cantatas de Bach, resultantes de uma extensa digressão que teve lugar no ano 2000. A nova aposta de Gardiner e da sua editora visa a edição da integral das (quatro) sinfonias e do célebre Um Requiem Alemão de Johannes Brahms (1833-1897), numa série de cinco álbuns, da qual um primeiro disco já chegou ao mercado, estando o lançamento de um segundo agendado para o mês de Fevereiro. Como o próprio maestro explica em entrevista publicada no booklet que acompanha a edição, o carácter “vocal” que sente intrínseco à música orquestral de Brahms é um dos motivos de interesse para a abordagem à integral da sua obra sinfónica que tomou em mãos. Para o projecto ganhar forma, o maestro (um dos primeiros partidários das abordagens de “época”) procurou os instrumentos de que o compositor mais gostava e usava, num processo que naturalmente o obrigou a reconfigurar a dimensão e disposição da orquestra. Em última análise, procurava “estilos perdidos”, em busca de um retrato que espera ser o mais fiel possível das intenções de Brahms. Há registos escritos da opinião do compositor sobre a forma como, no seu tempo, vários maestros dirigiram as suas sinfonias. Opiniões que vão do “absolutamente horrível” ao “espirituoso e elegante”. Há também anotações sobre o que gostava e não gostava na forma de abordar a sua música, sendo sabido que não era nem um admirador de uma “rigidez metronómica” nem de excessos na “expressividade”...
A Sinfonia Nº1 de Brahms é a obra central do alinhamento do primeiro disco da série que aqui conhece a primeira edição. Estreada em 1876, a sinfonia teve uma história de gestação longa, somando um total de 21 anos. Entre as várias justificações para tão demorado processo reside o sentido de auto-crítica do compositor, ciente da memória histórica da obra sinfónica de Beethoven. Curiosamente, um dos comentários que fez história quando finalmente foi apresentada publicamente, descreveu-a como a “décima de Beethoven”, facto que decorre de algumas semelhanças, que o próprio compositor reconheceu, aparentemente sem que tal representasse um problema. Além da Sinfonia Nº1, o disco, no qual John Eliot Gardiner dirige a Orchestre Revolutionaire et Romantique e o Monteverdi Choir, inclui ainda duas obras corais de Brahms e o Mitten Wir Im Leben Sind, de Mendelssohn. Como nas demais edições da Soli Deo Gloria, o disco é um primor de packaging, com informativo booklet de 44 páginas. A capa usa a pintura The Sky’s The Limit (2002), de Howard Hodgkin.