sábado, janeiro 31, 2009

Ténis, versão azul

O desporto não tem que ser visto como (quase sempre) é visto o futebol; podemos admirar mesmo as modalidades menos "fáceis" — este texto foi publicado no Diário de Notícias (30 de Janeiro), com o título 'Geometria azul'.

Confesso que me sinto cada vez mais distante das análises do desporto que as televisões propõem. No caso concreto do futebol, é uma tristeza verificar que dois em cada três comentários se fixam no “policiamento” das decisões dos árbitros, alheando-se do jogo jogado e transformando cada erro de arbitragem num rol de insinuações e suspeições... Quanto mais não seja como forma de contraponto emocional (o espectador também tem direito aos seus estados de alma), direi que foi através da televisão que aprendi a conhecer e admirar um desporto tão diferente como é o ténis. Acima de tudo, a televisão deu-me a possibilidade de sentir que o ténis se joga numa paisagem de delicada e muito sofisticada geometria, seja por causa da austeridade do seu rectângulo, seja pela precisão milimétrica que se exige aos seus praticantes. Daí que gostasse de partilhar com o leitor a beleza austera desta imagem do Open de Ténis da Austrália. Desde logo porque contraria a convenção dos clássicos courts verdes; depois porque faz coincidir um gesto de vitória com aquilo que será o seu complemento mais paradoxal: uma solidão imensa, desenhada em tons de azul.