Frost/Nixon, de Ron Howard, pertence a uma nobre tradição americana de abordagem dos bastidores televisivos (lembremos o extraordinário Quiz Show, dirigido por Robert Redford em 1994) — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 de Janeiro), com o título 'Um drama vivido na televisão'.
Provavelmente, para muitos espectadores de hoje, a personalidade de Richard Nixon é um nome distante. Mais do que isso: as suas célebres entrevistas com David Frost, em 1977, constituem uma referência mais ou menos vaga, mesmo se é verdade que nelas o ex-Presidente dos EUA acabou por admitir, implicitamente, a sua culpa no escândalo Watergate.
O primeiro mérito do filme de Ron Howard, baseado na peça teatral do inglês Peter Morgan sobre essas entrevistas, é o de nos situar numa conjuntura em que Nixon, já demitido do seu cargo, emerge como uma figura eminentemente ambígua: por um lado, há nele os jogos e perversidades de alguém que sempre se moveu numa teia de mentiras (ou meias verdades); por outro lado, a sua admissão de culpa tem a força de um processo de purificação, não tanto da sua trajectória, mas do imaginário do povo americano.
A adaptação da peça, feita pelo próprio autor, vai no sentido de criar uma teia em que compreendemos o papel revelador que a televisão pode desempenhar, mas também o aparato de ideias, interesses e manobras que a montagem de um dispositivo de entrevista pode envolver. É especialmente feliz o modo como o filme trata as suas personagens fulcrais, não como símbolos maniqueístas (o “jornalista” face ao “político”), mas sim como homens de psicologia complexa e, em muitos aspectos, imprevisível.
Nesta perspectiva, o trabalho dos actores revela-se decisivo, uma vez que Michael Sheen (Frost) e Frank Langella (Nixon) conseguem superar a mera “imitação”. É certo que ambos são filmados no sentido de sugerir muitas semelhanças físicas com os retratados; ao mesmo tempo, porém, a densidade psicológica dos diálogos (e dos confrontos que implicam) confere-lhes uma dimensão humana que está para além de qualquer cliché. Se é verdade que as entrevistas Frost/Nixon foram pioneiras de todo um estilo de fazer televisão, este filme é uma excelente revisão crítica das suas peripécias e implicações simbólicas.
Provavelmente, para muitos espectadores de hoje, a personalidade de Richard Nixon é um nome distante. Mais do que isso: as suas célebres entrevistas com David Frost, em 1977, constituem uma referência mais ou menos vaga, mesmo se é verdade que nelas o ex-Presidente dos EUA acabou por admitir, implicitamente, a sua culpa no escândalo Watergate.
O primeiro mérito do filme de Ron Howard, baseado na peça teatral do inglês Peter Morgan sobre essas entrevistas, é o de nos situar numa conjuntura em que Nixon, já demitido do seu cargo, emerge como uma figura eminentemente ambígua: por um lado, há nele os jogos e perversidades de alguém que sempre se moveu numa teia de mentiras (ou meias verdades); por outro lado, a sua admissão de culpa tem a força de um processo de purificação, não tanto da sua trajectória, mas do imaginário do povo americano.
A adaptação da peça, feita pelo próprio autor, vai no sentido de criar uma teia em que compreendemos o papel revelador que a televisão pode desempenhar, mas também o aparato de ideias, interesses e manobras que a montagem de um dispositivo de entrevista pode envolver. É especialmente feliz o modo como o filme trata as suas personagens fulcrais, não como símbolos maniqueístas (o “jornalista” face ao “político”), mas sim como homens de psicologia complexa e, em muitos aspectos, imprevisível.
Nesta perspectiva, o trabalho dos actores revela-se decisivo, uma vez que Michael Sheen (Frost) e Frank Langella (Nixon) conseguem superar a mera “imitação”. É certo que ambos são filmados no sentido de sugerir muitas semelhanças físicas com os retratados; ao mesmo tempo, porém, a densidade psicológica dos diálogos (e dos confrontos que implicam) confere-lhes uma dimensão humana que está para além de qualquer cliché. Se é verdade que as entrevistas Frost/Nixon foram pioneiras de todo um estilo de fazer televisão, este filme é uma excelente revisão crítica das suas peripécias e implicações simbólicas.