Será possível uma televisão estatal sem publicidade? O Presidente Sarkozy acha que sim — este texto foi publicado no Diário de Notícias (9 de Janeiro), com o título 'A televisão de Sarkozy'.
O audiovisual francês vive dias muito agitados. Razão para isso: a supressão da publicidade nos canais estatais. Trata-se da concretização de um projecto anunciado, há poucos meses, pelo Presidente Nicolas Sarkozy. Assim, a televisão pública deixou de ter intervalos publicitários entre as oito da noite e as seis da manhã, de acordo com um processo faseado que deverá estar concluído em 2011. Na prática, isto significa que, desde segunda-feira, os espectadores passaram a assistir ao horário nobre dos quatro canais da France Télévisions sem pausas para anúncios.
São muitas as resistências políticas e profissionais desencadeadas pela medida de Sarkozy, estando mesmo previstas greves de alguns sectores. Para uns, trata-se de uma jogada destinada a reforçar o controlo das televisões pela máquina estatal; para outros, a perda de receitas pelos canais públicos (apesar de compensadas por um sistema de taxas que envolve também as comunicações telefónicas e a Internet) conduzirá, a prazo, ao seu desmoronamento económico. Sarkozy defende-se com um argumento principal: libertando-se da necessidade de atrair grandes audiências para garantir receitas publicitárias, os canais públicos vão poder funcionar com outro sentido criativo, aumentando a qualidade da oferta e, talvez, “obrigando” os canais privados a colar-se aos seus padrões.
Poderá ser uma visão ingénua ou até irrealista. Além do mais, o bom senso aconselha a evitar profecias apressadas, sobretudo se não esquecermos a complexidade do tecido audiovisual francês (que inclui a mais poderosa indústria cinematográfica da Europa, em íntima ligação com a televisão). Seja como for, a estratégia de Sarkozy deixa uma hipótese que vale a pena pensar. Qual? A de uma televisão pública que, não por “vocação” abstracta, mas a partir de uma opção eminentemente política, se liberta da lógica financeira das privadas. É uma hipótese que implica um desafio, a um tempo legislativo e económico, que, por exemplo, em Portugal, se mantém politicamente suspenso. Parece até que, seja o que for que passe nos horários nobres, a classe política nunca tem nada a dizer.
O audiovisual francês vive dias muito agitados. Razão para isso: a supressão da publicidade nos canais estatais. Trata-se da concretização de um projecto anunciado, há poucos meses, pelo Presidente Nicolas Sarkozy. Assim, a televisão pública deixou de ter intervalos publicitários entre as oito da noite e as seis da manhã, de acordo com um processo faseado que deverá estar concluído em 2011. Na prática, isto significa que, desde segunda-feira, os espectadores passaram a assistir ao horário nobre dos quatro canais da France Télévisions sem pausas para anúncios.
São muitas as resistências políticas e profissionais desencadeadas pela medida de Sarkozy, estando mesmo previstas greves de alguns sectores. Para uns, trata-se de uma jogada destinada a reforçar o controlo das televisões pela máquina estatal; para outros, a perda de receitas pelos canais públicos (apesar de compensadas por um sistema de taxas que envolve também as comunicações telefónicas e a Internet) conduzirá, a prazo, ao seu desmoronamento económico. Sarkozy defende-se com um argumento principal: libertando-se da necessidade de atrair grandes audiências para garantir receitas publicitárias, os canais públicos vão poder funcionar com outro sentido criativo, aumentando a qualidade da oferta e, talvez, “obrigando” os canais privados a colar-se aos seus padrões.
Poderá ser uma visão ingénua ou até irrealista. Além do mais, o bom senso aconselha a evitar profecias apressadas, sobretudo se não esquecermos a complexidade do tecido audiovisual francês (que inclui a mais poderosa indústria cinematográfica da Europa, em íntima ligação com a televisão). Seja como for, a estratégia de Sarkozy deixa uma hipótese que vale a pena pensar. Qual? A de uma televisão pública que, não por “vocação” abstracta, mas a partir de uma opção eminentemente política, se liberta da lógica financeira das privadas. É uma hipótese que implica um desafio, a um tempo legislativo e económico, que, por exemplo, em Portugal, se mantém politicamente suspenso. Parece até que, seja o que for que passe nos horários nobres, a classe política nunca tem nada a dizer.