O aparecimento de um quinto canal de televisão no espectro português (re)coloca algumas questões vitais: sobre opções de programação e, antes disso, sobre a própria viabilidade económica d etal conjuntura — este texto foi publicado no Diário de Notícias (30 de Janeiro), com o título 'À espera do quinto canal'.
A abertura do concurso para um quinto canal de sinal aberto coloca algumas questões que vale a pena tentar equacionar. Em boa verdade, são questões pelo menos tão antigas quanto o aparecimento da televisão privada em Portugal. Podem resumir-se em dois vectores principais. Primeiro: qual o futuro do conceito (dominante) de televisão generalista? Segundo: qual a viabilidade económica, não apenas desse quinto canal (seja ele qual for), mas da conjuntura, “quatro + um”, que for criada?
A primeira interrogação remete-nos para uma certeza: o desenvolvimento da televisão privada (e com isto quero dizer: desenvolvimento com lucros) não tinha que ser feito através da degradação galopante dos nossos modelos de ficção (o império das telenovelas) nem com a imposição de matrizes de “espectáculo” enraizadas na obscena exploração da dignidade humana (Big Brother e seus derivados). Mais ainda: tal desenvolvimento também não precisava de ser “sancionado” por todas as formas de mimetismo, dos concursos ao futebol, que a televisão pública tem assumido em relação aos operadores privados.
Sobre a segunda dúvida, não creio que alguém possa apresentar previsões seguras sobre as relações (absolutamente vitais) entre cinco canais e um bolo publicitário que não cresce por meras boas vontades. E ainda menos num cenário de crise internacional como é aquele que se vive em todas as áreas de produção e consumo.
Significa isto que a simples ideia de um quinto canal é, em si mesma, nefasta? Não é esse o meu ponto de vista. Em todo o caso, o mais básico pragmatismo manda que se diga que vivemos num contexto em que esse “salto para a frente” pode transformar-se num gesto de absoluto irrealismo criativo e financeiro.
Vale a pena relembrar uma ideia simples, mas que poucos efeitos tem tido nas opções globais dos canais existentes: o aumento da oferta — através das dezenas, porventura centenas, de escolhas que o cabo proporciona — tem mostrado que há também uma importante diversificação da procura. Dito de outro modo: julgar que o público se reduz a uma massa amorfa à espera da próxima “cena de nu” em telenovela ou do novo concurso de “cultura geral” é não querer lidar com a pluralidade e a fragmentação desse mesmo público.
A abertura do concurso para um quinto canal de sinal aberto coloca algumas questões que vale a pena tentar equacionar. Em boa verdade, são questões pelo menos tão antigas quanto o aparecimento da televisão privada em Portugal. Podem resumir-se em dois vectores principais. Primeiro: qual o futuro do conceito (dominante) de televisão generalista? Segundo: qual a viabilidade económica, não apenas desse quinto canal (seja ele qual for), mas da conjuntura, “quatro + um”, que for criada?
A primeira interrogação remete-nos para uma certeza: o desenvolvimento da televisão privada (e com isto quero dizer: desenvolvimento com lucros) não tinha que ser feito através da degradação galopante dos nossos modelos de ficção (o império das telenovelas) nem com a imposição de matrizes de “espectáculo” enraizadas na obscena exploração da dignidade humana (Big Brother e seus derivados). Mais ainda: tal desenvolvimento também não precisava de ser “sancionado” por todas as formas de mimetismo, dos concursos ao futebol, que a televisão pública tem assumido em relação aos operadores privados.
Sobre a segunda dúvida, não creio que alguém possa apresentar previsões seguras sobre as relações (absolutamente vitais) entre cinco canais e um bolo publicitário que não cresce por meras boas vontades. E ainda menos num cenário de crise internacional como é aquele que se vive em todas as áreas de produção e consumo.
Significa isto que a simples ideia de um quinto canal é, em si mesma, nefasta? Não é esse o meu ponto de vista. Em todo o caso, o mais básico pragmatismo manda que se diga que vivemos num contexto em que esse “salto para a frente” pode transformar-se num gesto de absoluto irrealismo criativo e financeiro.
Vale a pena relembrar uma ideia simples, mas que poucos efeitos tem tido nas opções globais dos canais existentes: o aumento da oferta — através das dezenas, porventura centenas, de escolhas que o cabo proporciona — tem mostrado que há também uma importante diversificação da procura. Dito de outro modo: julgar que o público se reduz a uma massa amorfa à espera da próxima “cena de nu” em telenovela ou do novo concurso de “cultura geral” é não querer lidar com a pluralidade e a fragmentação desse mesmo público.