Clássicos do Século XX - 8
'Saint François d'Assise', de Olivier Messiaen
(1983)
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Com obra que remonta aos anos 20 do século XX, Olivier Messiaen (1908-1992) esteve, anos a fio, longe de imaginar que um dia iria compor uma ópera. Já depois de apresentada La Transfiguration de Notre-Seigneur Jesus-Christ, obra coral de grandes dimensões, acompanhada por uma orquestra, recebeu em 1971 um primeiro convite para compor para a Ópera de Paris. Começou por declinar o desafio, mudando de ideias pela insistência com que o director da Ópera o abordou. Como o próprio explica em entrevista publicada no booklet da gravação editada em 1998 pela Deutsche Grammophon, durante anos Messiaen não só não se julgava apto para compor uma ópera como para si o género parecia algo ultrapassado depois do Wozzeck, de Berg. Com liberdade para escolher o tema a abordar, opta pela dramatização da vida de São Francisco de Assis, justificando a escolha pelo facto, entre todos os santos, ser aquele que mais se aproxima do exemplo de Cristo.
A opção encontra sintonia na identidade devota de Messiaen, um dos compositores do século XX em cuja obra mais se reconhecem marcas da fé cristã. Também organista, professor e ornitólogo, Olivier Messiaen nasceu em Avignon a 10 de Dezembro de 1908 (co centenário assinalado na última semana). Estudou no conservatório de Paris, onde teve entre os professores Paul Dukas, cujo trabalho e presença sempre destacou na sua formação. Para a construção de uma identidade, que dele faria uma das figuras mais importantes da história da música do século XX, contaram influências várias, algumas escutadas entre contemporâneos (como, sobretudo, Debussy, mas também Prokofiev), a elas juntando revelações encontradas junto de outras e mais distantes tradições, nomeadamente gregas e hindus. A música do Extremo Oriente teve também impacte em reflexões sobre ritmo e instrumentos de percussão. Homem do seu tempo, abordou as emergentes formas instrumentais, nomeadamente as Ondas Martenot. E, transpondo para a música o seu interesse na ornitologia, compôs uma série de obras directamente inspiradas pelo canto de pássaros. Para uma das cenas de Saint François d’Assise (a do Sermão aos Pássaros), chegou mesmo a usar observações de campo em Itália para integrar cantos de aves locais na construção musical.
A opção encontra sintonia na identidade devota de Messiaen, um dos compositores do século XX em cuja obra mais se reconhecem marcas da fé cristã. Também organista, professor e ornitólogo, Olivier Messiaen nasceu em Avignon a 10 de Dezembro de 1908 (co centenário assinalado na última semana). Estudou no conservatório de Paris, onde teve entre os professores Paul Dukas, cujo trabalho e presença sempre destacou na sua formação. Para a construção de uma identidade, que dele faria uma das figuras mais importantes da história da música do século XX, contaram influências várias, algumas escutadas entre contemporâneos (como, sobretudo, Debussy, mas também Prokofiev), a elas juntando revelações encontradas junto de outras e mais distantes tradições, nomeadamente gregas e hindus. A música do Extremo Oriente teve também impacte em reflexões sobre ritmo e instrumentos de percussão. Homem do seu tempo, abordou as emergentes formas instrumentais, nomeadamente as Ondas Martenot. E, transpondo para a música o seu interesse na ornitologia, compôs uma série de obras directamente inspiradas pelo canto de pássaros. Para uma das cenas de Saint François d’Assise (a do Sermão aos Pássaros), chegou mesmo a usar observações de campo em Itália para integrar cantos de aves locais na construção musical.
Produção em Berlim, por Liebskind, em 2002
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Messiaen trabalhou durante oito anos em Saint François d’Assise. Consultou vários textos, entre os quais biografias de santos e, naturalmente, as orações de S. Francisco de Assis. Viajou a Itália e, em Assis, visitou a Basílica de S. Francisco, onde estudou os frecos de Giotto (alguns dos gestos do protagonista na produção inuagural, em 1983, foram directamente inspirados por estes frescos). Em Florença visitou o mosteiro de San Marco, no qual observou obras de Fra Angélico, nelas baseando a figura do anjo (estando anotada no próprio libreto a forma como se deve apresentar em palco). Além da música, Messiaen chamou a si a escrita do libreto, assegurando assim absoluta liberdade criativa. A ópera, relativamente longa, não abarca toda a vida de S. Francisco de Assis, mas apenas a etapa que se segue à sua conversão. Dividida em três actos e oito cenas, a ópera procura seguir de perto sugestões de textos franciscanos do século XIV. Ao contrário de muitas outras óperas contemporâneas, Saint François d’Assisse divide o protagonismo entre o canto dos solistas e sequências de música coral e orquestral.
Imagens da produção de 1998, no Festival de Salzburgo, que permitiu a gravação do disco cuja capa acima apresentamos, acompanhada pela Halle Orchestra e o Arnold Schoenberg Chor, sob direcção de Kent Nagano. Excerto da terceira cena do primeiro acto, com as vozes de Dawn Upsaw (anjo), José Van Dam (S. Francisco) e Chris Merritt (leproso).
Imagens da produção de 1998, no Festival de Salzburgo, que permitiu a gravação do disco cuja capa acima apresentamos, acompanhada pela Halle Orchestra e o Arnold Schoenberg Chor, sob direcção de Kent Nagano. Excerto da terceira cena do primeiro acto, com as vozes de Dawn Upsaw (anjo), José Van Dam (S. Francisco) e Chris Merritt (leproso).