domingo, dezembro 07, 2008

Para completar um ciclo

Pierre Boulez assina, num dos discos mais aclamados do ano, um conjunto de gravações com as quais termina um extenso ciclo de edições dedicadas à obra orquestral de Bela Bartók (1881-1945) para a Deutsche Grammophon. À frente da London Symphony Orchestra, e juntando um “elenco” de solistas notáveis, entre os quais Gidon Kremer (violino) e Yuri Bashmet (viola), Boulez apresenta neste seu novo disco três concertos claramente distantes dos que mais frequentemente são interpretados em disco e ao vivo. Ou seja, obras menos divulgadas mas, como a gravação revela, nem por isso menores. Duas delas são composições tardias, uma delas (o Concerto para Viola) inclusivamente deixada incompleta pela morte do compositor. A terceira (o Concerto para Violino), é uma composição de inícios do século XX, dedicada a uma violinista por quem o compositor viveu breve romance mas que acabou por ela rejeitada logo que terminada a relação, antes portanto de concluída a composição. Bartók procurou quem interpretasse a obra, mas não o conseguiu. O primeiro andamento do concerto serviu de base a uma outra obra, acabando esta por nunca ser tocada antes da morte da mulher que a inspirara, o que só aconteceu em 1957.

Desde sempre interessado em levar a palco e gravar obras-chave da história musical do século XX, Pierre Boulez (também ele um compositor) vê no húngaro Bela Bartók, juntamente com o russo Igor Stravinsky, uma das principais forças motrizes da revolução que mudou música no século XX, destacando particularmente o seu trabalho sobre o ritmo. Precoce, Bartók começou a estudar piano aos quatro anos com a mãe. A juventude é um período de descobertas, que juntam a assimilação de influências marcantes (sobretudo Debussy) aos primeiros contactos com a música folk, aqui encetando uma viagem de descoberta que dele faria o fundador da etnomusicologia. A integração de ideias captadas na música folk será uma das características de algum do seu trabalho enquanto compositor, sendo evidente no Concerto Para Viola que encerra o alinhamento do disco agora editado. O concerto foi uma entre as obras que Bartók assinou na etapa final da sua vida, em Nova Iorque, para onde se mudara em 1940, em fuga da guerra e de conflitos entre o novo poder húngaro e o espírito liberal do compositor.