Pierre Boulez assina, num dos discos mais aclamados do ano, um conjunto de gravações com as quais termina um extenso ciclo de edições dedicadas à obra orquestral de Bela Bartók (1881-1945) para a Deutsche Grammophon. À frente da London Symphony Orchestra, e juntando um “elenco” de solistas notáveis, entre os quais Gidon Kremer (violino) e Yuri Bashmet (viola), Boulez apresenta neste seu novo disco três concertos claramente distantes dos que mais frequentemente são interpretados em disco e ao vivo. Ou seja, obras menos divulgadas mas, como a gravação revela, nem por isso menores. Duas delas são composições tardias, uma delas (o Concerto para Viola) inclusivamente deixada incompleta pela morte do compositor. A terceira (o Concerto para Violino), é uma composição de inícios do século XX, dedicada a uma violinista por quem o compositor viveu breve romance mas que acabou por ela rejeitada logo que terminada a relação, antes portanto de concluída a composição. Bartók procurou quem interpretasse a obra, mas não o conseguiu. O primeiro andamento do concerto serviu de base a uma outra obra, acabando esta por nunca ser tocada antes da morte da mulher que a inspirara, o que só aconteceu em 1957.
Desde sempre interessado em levar a palco e gravar obras-chave da história musical do século XX, Pierre Boulez (também ele um compositor) vê no húngaro Bela Bartók, juntamente com o russo Igor Stravinsky, uma das principais forças motrizes da revolução que mudou música no século XX, destacando particularmente o seu trabalho sobre o ritmo. Precoce, Bartók começou a estudar piano aos quatro anos com a mãe. A juventude é um período de descobertas, que juntam a assimilação de influências marcantes (sobretudo Debussy) aos primeiros contactos com a música folk, aqui encetando uma viagem de descoberta que dele faria o fundador da etnomusicologia. A integração de ideias captadas na música folk será uma das características de algum do seu trabalho enquanto compositor, sendo evidente no Concerto Para Viola que encerra o alinhamento do disco agora editado. O concerto foi uma entre as obras que Bartók assinou na etapa final da sua vida, em Nova Iorque, para onde se mudara em 1940, em fuga da guerra e de conflitos entre o novo poder húngaro e o espírito liberal do compositor.