O cartaz do filme Fome (Hunger) faz-se com a magreza do corpo de Bobby Sands, aliás, com a superfície serena de uma pele que recobre um corpo magro, martirizado, denunciando o contorno dos ossos e a iminência da morte. Bobby Sands foi um dos militantes presos do IRA que, na Grã-Bretanha de Margaret Thatcher, fez greve da fome para reivindicar o estatuto de prisioneiro político. O filme — premiado com a Câmara de Ouro (melhor primeira obra) de Cannes 2008 — refaz o calvário de Sands num registo que devolve ao cinema britânico o melhor da sua tradição realista e também a sua radical dimensão política. Michael Fassbender é absolutamente comovente na composição da personagem de Sands. Dirigido pelo artista multifacetado que é Steve McQueen — vencedor, em 1999, do Turner Prize —, Fome é um filme precioso, urgente, humanista até ao limite mais doloroso, porventura mais contraditório, de defesa da dignidade do ser humano. Seria uma pena que a voracidade do marketing natalício diminuísse a importância da sua estreia — eis o trailer.