quarta-feira, dezembro 17, 2008

Figuras do ano: Laurent Cantet

Para um cineasta, arrebatar a Palma de Ouro do Festival de Cannes é sempre um acontecimento especial. Sendo francês, a proeza redobra de significado: afinal de contas, não acontecia há 21 anos, desde Sob o Sol de Satanás (1987), de Maurice Pialat. Seja como for, o triunfo de Laurent Cantet, com o filme A Turma, está muito para além dos fenómenos engrandecidos pela frieza da estatística. Encenando o dia a dia de um liceu — tendo como ponto de partida o livro de François Bégaudeau, também intérprete principal —, Cantet fez valer duas ideias essenciais: primeiro, que o olhar realista continua na ordem do dia, constituindo mesmo uma das vias fulcrais do cinema contemporâneo; segundo, que é preciso resistir ponto por ponto à vulgaridade dramática e à chantagem moral da maior parte das representações televisivas da juventude. Nesta perspectiva, A Turma foi, em 2008, no contexto português, o anti-"morangos-com-açúcar".