Os espaços dos talk shows (os mais interessantes, entenda-se) estão a transfigurar os seus próprios métodos e a relação que propõe com os seus espectadores. Ao longo de 2008, Jon Stewart foi um modelo exemplar de tal atitude: o seu The Daily Show baralhou de forma inteligente os conceitos tradicionais de espaço de "entrevistas" e programa de "intervenção política", não se coibindo de assumir posições políticas verdadeiramente críticas e, por isso mesmo, reduzindo a pó a noção beata de um entertainment "despreocupado" e "inconsequente".
No fundo, Stewart e a sua equipa são um pilar de uma ética que, mais do que nunca, importa sublinhar: a de que nenhuma forma de televisão funciona como espelho neutro seja do que for. Nesta perspectiva, The Daily Show disse aquilo que alguns discursos críticos na área da televisão não se cansam de repetir: que não vale a pena tentarem vender-nos a televisão como uma visão espontânea seja do que for... Trabalhar com imagens e sons é sempre reconfigurar o mundo, reconverter os seus significados, pensar e ser pensado.