Não há memória recente de um ano em que a escolha da figura que mais o marcou menos dúvidas levantou. Barack Obama foi não apenas o rosto, mas a força maior de um ano que viu as eleições presidenciais norte-americanos como um caso planetário. Era, como o próprio o afirmou, o candidato mais “improvável”. Negro, quase um ilustre desconhecido, distante das máquinas da alta política... Mas foi ele quem fez o momento. Começou por afastar Hillary Clinton da corrida à Casa Branca. E resistiu, Mr. Cool, a uma campanha onde a calúnia e o populismo tentaram, sem conseguir, travar a Obamania que invadiu a América. O expressivo voto popular, a 4 de Novembro, trouxe o primeiro capítulo a uma promessa de mudança, que terá 2009 como primeiro palco para a acção. Depois, revelando uma rapidez de resposta, deixou saber com quem ia trabalhar, quais eram as prioridades. Os gestos de primeiras consultas para uma eventual administração, lançados em Setembro (então sob crítica dos adversários, que o diziam estar a levar a carroça para a frente dos bois e de dar a corrida por ganha antes do tempo), deram uma vez mais razão a Obama. Estava preparado. Tinha equipa. E, se bem que só tome posse dia 20, a “sua” Casa Branca já tem a rodagem feita.
Obama foi o ícone de 2008. Foi retratado na pintura, na fotografia, no graffitti. Chegou à música. E dos seus livros (biografia, reflexões, discursos) fez alguns dos maiores best sellers do ano. Com o poder de atracção de uma estrela pop (os discursos em campanha mostraram-no), polarizou uma América descontente. E levou os mais novos, que se julgavam alheados da política (mas afinal não conheciam há muito quem a eles falasse), a intervir.
Com Obama a política ganha um novo paradigma. O da modernidade (no discurso, nas ideias, nas ferramentas de comunicação, na forma de angariar fundos para campanhas). O da seriedade (rejeitando, por exemplo, fazer de questões da vida pessoal dos adversários, como a gravidez da filha de Palin um alvo político). O da competência (preferindo falar aos canalizadores em vez de os levar ao palco para deles fazer maus oradores do tipo basta-juntar-água). Nasceu assim o modelo do político para o século XXI. (pena que sem a mínima correspondência, em que frente seja, por estes lados).