É uma imagem comovente: Despereaux, o ratinho que não conhece o medo, caminha, literalmente, sobre as páginas dos livros, seguindo, linha a linha, as aventuras que o fascinam. Baseado no livro de Kate DiCamillo, o filme A Lenda de Despereaux, dirigido por Sam Fell e Robert Stevenhagen, mostra que é possível propor heróis juvenis — aliás, infantis — que não se distingam por usar o gel do irmão mais velho ou por passarem os dias fechados nos sons de um qualquer mp3 que lhes entope as orelhas... Dito de outro modo: Despereaux é uma figurinha que nunca poderá ter sucesso num casting de Morangos com Açúcar, uma vez que pertence a uma cultura da escrita em que ainda se acredita na concretização das utopias evocadas pelas fábulas. Além do mais, esta é a prova real de que os estúdios da Universal sabem fazer das fraquezas forças e aí estão, marcando pontos, num espaço (os desenhos animados) em que a liderança da Pixar/Disney continua a não estar em causa.