George W. Bush "lamenta" que esteja a aconte-cer. O quê? A crise económica. Digamos que é pouco para quem deixa a presidência do país mais poderoso do mundo. As palavras estão numa entrevista concedida a Charles Gibson, da ABC, a primeira de várias que se anunciam, pontuando o final do seu segundo mandato — Barack Obama toma posse a 20 de Janeiro.
Mesmo que possamos acreditar (e por que não?) nas melhores intenções de um Presidente que teve que lidar com a tragédia do 11 de Setembro e as muitas ameaças terroristas, há qualquer coisa de obsceno na confissão de que a deficiente informação sobre as "armas de destruição" de Saddam Hussein constitui a "maior infelicidade" da sua presidência. Bush reconhece que "não estava preparado para a guerra" e nesse reconhecimento se condensa a terrível componente de irracionalidade que a história dificilmente apagará da sua passagem pela Casa Branca. Por tudo isso, a conversa com Gibson, aqui reproduzida, arrisca-se a transformar-se num bizarro, mas incontornável, documento histórico.