domingo, novembro 09, 2008

Prokofiev e Chopin por Kissin

Provavelmente, a maior e mais injusta simplificação que se pode fazer a propósito da arte de Evgeny Kissin é celebrá-lo apenas através da sua versatilidade. De facto, o som do seu piano, mesmo se passa por uma excelência técnica invulgar, impressiona-nos acima de tudo pela densidade dramática do seu fraseado, pelo paradoxo de contenção com que recebemos a sua energia.
Assim voltou a acontecer no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (dia 8, 19h00), num memorável concerto centrado em Sergei Prokofiev e Fryderyk Chopin — do primeiro, constava do programa a Suite de Romeu e Julieta (3 andamentos) e a Sonata nº 8; do segundo, uma Polaca-Fantasia, Mazurcas e vários Estudos. Com uma pose austera, mas eivada do genuíno prazer de tocar, Kissin fez ecoar o turbilhão de vozes que circulam pela música de Prokofiev, depois viajando pelo jogo de espelhos introspectivos que Chopin coloca em cena. Há em Kissin uma intensidade crescente (recorde-se que tem "apenas" 37 anos) que nos faz sentir e pressentir a sua própria procura das verdades mais íntimas de cada obra e dos enigmas que nelas se transportam. Mesmo que mais nada houvesse (e já tivemos a presença de Alexander Toradze e dos seus pupilos), este concerto bastaria para justificar o Ciclo de Piano da temporada 2008/09 na Gulbenkian.