Que vemos quando fotografamos aquilo que vemos? Que fotografamos quando decidimos fixar o instante que julgamos ver? São perguntas, de uma só vez práticas e teóricas, técnicas e existenciais, que o belíssimo filme de Philippe Garrel — A Fronteira do Amanhecer — recoloca a partir de um dispositivo clássico de melodrama: um homem, duas mulheres, uma relação amorosa que acaba (mas será que uma relação amorosa pode acabar?), outra que parece nascer (mas não será a mesma?). Filmando o seu próprio filho, Louis Garrel, o realizador prolonga um romanesco que o distingue como um dos mais selvagens criadores do cinema francês — é assim há mais de 40 anos, quase sempre com esta contundência terna das imagens a preto e branco.