Chega hoje às salas de cinema o muito esperado novo filme de James Bond. 007 – Quantum of Solace é o segundo com Daniel Craig no papel do agente secreto e vinca a pose “dura” revelada no “seu” Bond no magnífico Casino Royal. Quantum Of Solace é, tecnicamente, um Bond de primeira linha. A realização de Marc Foster, a montagem ritmada (que brilha logo nas sequências iniciais, em Itália) e uma cuidada direcção artística servem, contudo, uma aventura que peca na construção do argumento e, sobretudo, na definição de personagens. O filme aposta essencialmente na linguagem de "acção", com excessivo concentrado de perseguições (de carros, barcos e aviões) e dieta inesperada de trama de bastidores, afinal um outro condimento central na construção do imaginário Bond. O vilão (interpretado por Mathieu Amalric) é apenas... um tipo “mau”, desprovido de espaço e, convenhamos, de um papel que lhe confira o apelo demoníaco de outros que fizeram a história destes filmes. Igual destino aguarda a bond girl de serviço (Camille Montes), que dá nova vida à estafada figura da filha de vítimas da maldade de terceiros, agora em busca de vingança. Quantum of Solace revela até uma das melhores ideias de espionagem dos mais recentes filmes Bond numa sequência que envolve um palco monumental no qual decorre a apresentação de uma encenação da Tosca, de Puccini. Porém, o argumento em quase nada aproveita depois a complexa rede de figuras e interesses cruzados. Segue no sentido da trama que Bond tenta desvendar, mas em poucos minutos desaparece o sabor da história de espionagem e o ecrã acaba novamente afogado pelos códigos do cinema de acção.
A história devolve à série uma organização secreta com poder à escala mundial, recuperando a memória da SPECTRE, dos filmes clássicos da primeira fase. A nova organização partilha os ideais anti-sistema, mas revela-se mais poderosa, com agentes em todo o lado, até mesmo junto dos serviços secretos britânicos. A James Bond caberá o papel de nela procurar a resposta para uma trama que tem em vista um golpe de estado na Bolívia, sob apoio “logístico” da tal organização secreta, a Quantum que dá nome ao filme. A memória da SPECTRE não é a única evocação do legado Bond. De resto, a mais bela cena do filme é aquela em que uma das vítimas da Quantum surge, envolta em petróleo, em perfeita citação da amante assassinada e "dourada" de Goldfinger.
Nota positiva todavia para a música, sobretudo o reencontrar de uma forma de adaptar o cânone Bond à personalidade dos músicos e ao seu tempo na canção-tema, Another Way To Die, que junta Jack White a Alicia Keys.