Kate Moss em ouro — Marc Quinn fez aquela que, segundo ele, será a maior estátua em ouro desde os tempos do Antigo Egipto. Pesa 50 quilos, vale 1,5 milhões de libras (quase 2 milhões de euros), chama-se Siren e está exposta em Londres, no British Museum.
Objecto de todas as ambiguidades, sem dúvida, quanto mais não seja porque funde — e a ideia de fusão é, aqui, o fundamento técnico e simbólico do próprio gesto criativo — a carnalidade com a abstracção radical do valor mercantil. Dir-se-ia que o escultor quis celebrar o conceito de estrela como a derradeira moeda (palavra também visceral neste contexto) da nossa relação com o sagrado. Escusado será dizer que, no momento actual, a crise do dinheiro como valor, ou do valor do dinheiro, empresta à sereia de Quinn o poder (ainda mais ambíguo, se tal é possível) de celebrar uma transcendência não decomposta pelo materialismo dos tempos. Sabêmo-la intocável e sabemos que brilha — as aparições divinas não são feitas de outra coisa.