>>> Falo de sofrimento. Penso que para além do cliché romântico, Chopin estava verdadeiramente dividido entre exigência criadora e vida mundana — como uma contigência que certo modo lhe era fértil, mas também destruidora. [...] Tenho a sensação muito forte que nas últimas obras a dor se integra finalmente como apaziguada pela sua aceitação. Schubert fazia isso naturalmente, desde o início, ao passo que Chopin fá-lo através duma longa busca.<<<
Assim se expressa Maria João Pires a propósito das peças incluídas na sua mais recente gravação, o álbum duplo Chopin: sonatas, nocturnos, mazurcas, valsas e ainda a sonata para violoncelo (com Pavel Gomziakov) e piano em sol menor, op. 65 — todas elas escritas entre 1844 e 1849, ano da morte do compositor, contava 39 anos. Sons interiores, dilacerados mas serenos, para ensinar o valor do silêncio à agitação da cidade.