Ao todo fomos 75 mil no Parque da Bela Vista. Ninguém deverá ter saído desiludido... Mas ficou a sensação de termos assistido ao final de uma etapa. Desde há vários anos, sobretudo nas quatro últimas digressões, as da presente década (Drowned World, Re-Invention, Confessions e, agora a Sticky And Sweet), vemos Madonna apostada na exploração de um modelo relativamente rígido de espectáculo. Produções em quatro quadros, separadas por interlúdios, cruzando acção (sobretudo a dança) com imagens em vídeo expressamente criadas para o concerto e, a dada altura, o momento da “mensagem” política (e também de fé)... O modelo já deu resultados magníficos. A Drowned World Tour revelou cenografia de excepção, herdando e transformando referências maiores do grande teatro musical. A Re-Invention Tour explorou a fundo o trabalho em vídeo. A Confessions Tour entendeu as sugestões do disco que a motivava e insistiu no trabalho de coreografia... E agora? Bom, a Sticky and Sweet baralha e volta a dar. E de verdadeiramente novo apenas a ousadia de transformar arranjos, reinventando alguns dos velhos temas em novos corpos de som.
Cenograficamente, à excepção das dimensões do palco, nada de novo (e grande nem sempre é sinónimo de bom), salvo no trabalho em vídeo, uma vez mais irrepreensível (soberba a revisitação de criações de Keith Haring em Into The Groove). Coreograficamente revelou-se a mais “pobre” em ideias de todas as últimas digressões, com apenas alguns instantes realmente entusiasmantes nos jogos de parceria entre palco e vídeo (sobretudo nas contribuições de Britney e Timberlake), no revisitar da imagem da própria Madonna, através de clones, em She’s Not Me e no quadro latino/cigano de La Isla Bonita. Esta, com fatias de uma canção cigana pelo meio, foi uma das surpresas maiores no campo da música onde, na verdade, se sugeriam as maiores (e melhores) novidades. Vogue, com elementos de 4 Minutes, Like A Prayer com samples de Felix (provando que o "lixo", anos depois, tem graça) e um You Must Love Me sem rede, contaram-se entre os melhores momentos de toda a noite. Em contrapartida Hung Up e Borderline ensopadas em guitarras de mau hard rock e uma reinvenção confusa de Ray Of Light mostram como nem tudo o que é bom (na origem) sai bem... E, convenhamos, a dieta de boas canções de Hard Candy também não ajudou...
Aos 50 anos Madonna, apesar da “boa forma” que aparenta tem pela sua frente o desafio de, realmente, se reinventar. Algo que sempre soube fazer, apesar das opções menos interessantes do último álbum e presente digressão. As frequentes pausas para tocar guitarra não escondem a necessidade de “repouso” em cena. Nada de errado na opção. De resto, pode nascer nessa pose uma nova ideia de concerto para um futuro não muito distante. Em salas mais pequenas, sem aparato. Apenas as canções... Porque não?
PS. E Robyn? Não esteve mal. Nada mal mesmo... Interessantes citações a Neneh Cherry e às Salt'N'Pepa. E em destaque as canções do mais recente disco, fechando em alta com With Every Hearbeat... Marcou pontos.