Já sabíamos que os consumidores mais jovens constituem um alvo preferencial das televisões contemporâneas. Veja-se as teleno-velas "juvenis": aí, as personagens adolescentes surgem reduzidas a estúpidas máquinas sexuais e a painéis amorfos de gadgets consumíveis, deambulando entre telemóveis e o mais recente gel no cabelo, tudo embalado em requentadas recriações musicais de duplos de Vanilla Ice.
É um mundo empenhado em tirar partido do vazio de ideias e pensamentos que faz lei no quotidiano mediático (afinal de contas, não nos podemos esquecer que vivemos num país em que a palavra "intelectual" continua a ser usada como forma automática de insulto). Sintomaticamente, esse trabalho de ocupação ideológica, no seu frio calculismo, vai-se apropriando dos restos simbólicos que a própria história lhe concede.
Derradeiro exemplo de tal processo é este cartaz de Morangos com Açúcar que invadiu as nossas ruas: não só se promove a luta de classes como, em típico e banal gesto de marketing, se proclama que o produto para vender é melhor que o da concorrência — esta é a "verdadeira" luta de classes.
Se ao menos tivessemos uma classe política com gosto de pensar e discutir o mundo à sua volta — a começar pelo mundo da nossa juventude —, alguém viria denunciar a mediocridade argumentativa da ocorrência. Eventualmente, alguém de esquerda viria lembrar as raízes marxistas-leninistas de tal terminologia... Eventualmente, alguém de direita viria resistir aos sentidos histórico-ideológicos de semelhante formulação... Mas como não temos nada disso, só nos resta esta juvenil felicidade. E, nesta ditadura da irrespon-sabilidade, quem não é feliz, é suspeito.