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Seja qual for o ângulo a partir do qual observemos um filme como Morte de um Presidente, é bem provável que seja um ângulo equívoco. Reparemos, desde logo, na conjuntura (portuguesa) em que aparece. De facto, quer queiramos, quer não, esta história do assassinato de um Presidente dos EUA vais ser vista como algum tipo de “resposta” ao momento eleitoral americano, quanto mais não seja porque faltam poucas semanas para a eleição do sucessor de George W. Bush.
Daí que seja de elementar justiça (para os propósitos do próprio filme) começar por lembrar que estamos perante uma produção com dois anos, lançada a 27 de Outubro de 2006 nas salas americanas. Que é como quem diz: qualquer tipo de paralelismo entre o filme e o actual momento eleitoral, tentando ler o primeiro como “co-mentário” do segundo, é completamente deslocado e arrisca-se até a adquirir uma abusiva dimensão “anedótica”.
Depois, importa sublinhar a componente mais bizarra, e também mais perturbante, do filme dirigido por Gabriel Range (argumentista, produtor e realizador vindo da área da televisão). É uma componente típica das mais extremas ficções realistas & imaginárias: acontece que o presidente assassinado no filme é... George W. Bush.
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Morte de um Presidente acaba por ter muito pouco de futurismo (o que aconteceria se o Presidente fosse assassinado?), para funcionar como um exercício de interrogação política (onde é que a acção deste Presidente nos colocou?). O trabalho de Gabriel Range procura, assim, discutir dois temas fulcrais: primeiro, as consequências do envolvimento militar dos EUA no Iraque; segundo, o agravamento das tensões resultantes de algumas polémicas medidas de carácter social e laboral.
O mais insólito é que tudo isto nos surge no típico registo de docudrama: aliança do olhar documental com a reconstituição dramática de algumas situações. Com a particularidade de, desta vez, se estar a “reconstituir” algo que... nunca aconteceu. É um bom e desconcertante exemplo das actuais relações entre documentário e ficção e, mais do que isso, das alianças possíveis entre a verdade dos factos e o artifício das linguagens audiovisuais.
O mais insólito é que tudo isto nos surge no típico registo de docudrama: aliança do olhar documental com a reconstituição dramática de algumas situações. Com a particularidade de, desta vez, se estar a “reconstituir” algo que... nunca aconteceu. É um bom e desconcertante exemplo das actuais relações entre documentário e ficção e, mais do que isso, das alianças possíveis entre a verdade dos factos e o artifício das linguagens audiovisuais.