sexta-feira, setembro 12, 2008

"Dia do Diploma": que imagens?

José Sócrates esteve na Escola Secundária José Gomes Ferreira, assinalando o "Dia do Diploma", destinado a premiar o mérito dos alunos. Vale a pena conhecer as incidências do evento — sugiro, por exemplo, as imagens da SIC [de cuja página extraí esta foto] e as páginas do Público. Porventura inevitavelmente, a cerimónia veio reavivar as clivagens entre o Governo e a FENPROF.
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Confesso a minha desilusão pelo modo como os representantes dos professores mostraram um alheamento total em relação aos modos de representação mediática da juventude, em geral, e dos alunos, em particular.
Para os que me quiserem seguir com alguma serenidade, tentarei ser um pouco mais explícito.
Não se trata, entenda-se, de menosprezar os gravíssimos problemas (estruturais, financeiros, de carreira, etc.) com que a classe dos professores se tem vindo a confrontar. Muito menos se pretende banalizar as responsabilidades do actual Governo — e, por certo, de governos anteriores — na preocupante situação do sistema educativo português. Mas não é minha intenção tentar discutir, sequer resumir, essa situação a pretexto de um evento tão localizado e específico.
O meu ponto é de outra natureza. É de natureza mediática, insisto. E tem a ver com as representações socialmente dominantes da juventude, em particular da juventude que anda nas escolas.
Que representações são essas? São, sobretudo, representações de natureza televisiva e estão espalhadas por três áreas mais fortes:
1) - As telenovelas, onde os jovens surgem, sobretudo, como seres exóticos e pitorescos cuja existência se reduz a trocas de namorados/as e a avaliações das respectivas performances sexuais.
2) - Os programas ditos de entertenimento, com os jovens a serem identificados apenas pelas suas tendências consumistas (telemóveis, jogos de video, quase nada de livros).
3) - A publicidade, dominada por estereótipos jovens — com o pitoresco das telenovelas e a superficialidade dos programas de entertenimento — que gastam todas as suas energias na multiplicação de gadgets e mensagens, mas nunca em qualquer dimensão humana das respectivas relações.
Bem sei que o Governo também não discute estas questões. Aliás, para lá das poucas excepções individuais, todas as forças políticas partidárias distinguem-se por uma olímpica indiferença em relação aos modos como o mundo é televisivamente representado — e, muito em particular, ao papel mediático e simbólico das representações da própria política, por um lado, e da juventude, por outro.
Não estava à espera que os representantes dos professores viessem "ilibar" o Governo fosse do que fosse. Mas faz-me confusão que, de uma estrutura profissional que trabalha, todos os dias, com o mundo, as representações do mundo e o mundo como representação, dessa estrutura não venha um pequeno sinal que sublinhe algo de muito simples. Ou seja, que por uma vez vimos jovens na televisão não representados como patetas que odeiam o trabalho, mas como seres vivos que, por um feliz acaso, até têm uma opinião construtiva da escola e do seu papel no interior da escola.
Não é preciso apoiar o Governo para observar isto — trata-se apenas de não menosprezar o facto de olhar o mundo à nossa volta ser, sempre, um factor pedagógico a defender. Mesmo com fundamentos de grande justeza moral e reivindicações profissionais totalmente legítimas, o tradicional discurso sindical não basta para vivermos o nosso presente — mesmo quando se é professor. Eu diria: sobretudo quando se é professor.