Agora, 34 anos depois da proeza, um documentário devolve o desafio de Philippe Petit à ordem do dia. O "golpe", como o próprio lhe chama, temperando a sua ousada aventura com uma pitada de desafio à lei e ordem. Com o título Man On Wire, sob realização de James Marsh, e banda sonora do compositor britânico Michael Nyman, o filme cruza imagens de época, entrevistas (entre as quais uma feita ao próprio Philipe Petit, agora com 58 anos) e recriações para relatar um feito que chegou, na altura, a ser descrito como o "crime artístico do século". Quem já viu o filme (que há poucos dias se estreou no Reino Unido e não tem ainda prevista a eventual passagem por ecrãs portugueses) tem comentado o facto de este não referir os acontecimentos do 11 de Setembro. Em entrevistas já concedidas, o realizador James Marsh tem frisado que é do conhecimento de todos o que aconteceu às torres nesse dia. E vinca até o que de pungente pode haver num filme que foca a memória de algo que já não existe. Uma omissão que, a seu ver, enfatiza a sua ausência. Acrescente-se que, a 11 de Setembro de 2001, o ataque terrorista às Torres Gémeas passou pelo dia do homem que em tempos as tinha cruzado pelo ar. Um vizinho, ao saber da notícia, avisou-o: "As suas torres estão a ser destruídas."
Na verdade, Philippe Petit manteve desde 1974 uma relação especial com os edifícios. A "acrobacia", diz, não a fez pela fama ou para entrar no livro dos recordes. E recorda que sentiu uma "comunhão" com os edifícios durante a travessia. Esta relação iniciou-se seis anos antes, quando as começou a estudar. Com amigos, aprendeu a subi-las sem ser detectado. Escondeu cabos e preparou a travessia. Na manhã escolhida usaram um arco e flecha para depois lançar o cabo entre as torres. Quando deram por ele, já ia a meio da travessia.
PS. Versão editada de texto publicado no DN a 4 de Agosto.