segunda-feira, agosto 25, 2008

Nos 90 anos de Bernstein

Fosse vivo, Leonard Bernstein (1918-1990) completaria hoje os 90 anos. Norte-americano, de ascendência ucraniana, foi uma das mais destacadas figuras da música do século XX e teve importante carreira como mastro, compositor e também enquanto comunicador, aqui através da televisão, que dele fez um dos rostos globalmente mais reconhecidos da música clássica nas décadas de 50 a 70. Como maestro teve uma história de sucesso desde muito cedo, fazendo carreira em diversas grandes orquestras mundiais, sobretudo a Filarmónica de Nova Iorque, que comandou durante 12 anos. É reconhecido o papel determinante que teve na divulgação da obra sinfónica de Mahler, assim como na de grandes compositores americanos do século XX. Muitas vezes os feitos do comunicador televisivo e do maestro “que dançava” (o que incomodava alguma crítica mais sisuda) parecem ofuscar a importantíssima obra que nos deixou como compositor e que remonta a finais dos anos 30, estendendo-se até 1990. Pela sua obra, que escapou ao geometrismo atonal de muitos dos seus contemporâneos, passa uma consciência do lugar geográfico (e portanto cultural) em que viveu, nela encontrando-se a essência de uma identidade americana que, por um lado, aceitava a herança da tradição clássica ocidental (em particular procurando pistas nas sugestões de grandes mestres americanos como Coplan ou Ives), mas a ela juntava uma atenção pelo quotidiano onde nascia. Ou seja, reflectia uma vivência próxima com o jazz, a Broadway e até mesmo (pontualmente), a nova música pop. Deixou-nos três soberbas sinfonias. Uma série de magníficas peças para bailado. Musicais como On The Town, Wonderful Town ou West Side Story. A banda sonora de Há Lodo No Cais. As óperas Trouble In Tahiti e A Quiet Place. A espantosa Missa (uma reflexão sobre a relação do homem com a fé). E, obra-prima absoluta, a opereta cómica Candide que, estreada nos anos 50, foi alvo de revisões várias até conhecer a sua elegante forma final em 1989.
Pelo mundo fora os 90 anos de Bernstein traduzem-se em programas sinfónicos de homenagem, ora visitando a sua obra ora a dos compositores que mais abordou como maestro. A Filarmónica de Nova Iorque dedica-lhe a próxima temporada. A Naxos edita uma caixa de DVDs. Por cá... nicles!...
Nos 90 anos de Bernstein aqui propomos duas memórias com som e imagem...



A abertura de Candide, na sua versão de 1989, dirigida pelo próprio Bernstein em Londres. Note-se, apesar da idade avançada, o prazer do maestro enquanto dirige a sua música. E por vezes dança...



Reduzir Bernstein a West Side Story é uma injustiça para com toda uma obra que vai muito além deste momento de genial diálogo da tradição clássica com o jazz, a música latina e uma consciência da coexistência de culturas da cidade de Nova Iorque. West Side Story é, contudo, referência incontornável. E aqui fica Somewhere, uma das suas canções de referência, em versão pelos Pet Shop Boys.