Antes de se envolver com a maquinaria dos blockbusters, Christopher Nolan era um autor de filmes de modestíssimo orçamento como Memento (custou 9 milhões de dólares, isto é, vinte vezes menos que O Cavaleiro das Trevas). O filme, datado de 2000, reaparece agora no mercado do DVD numa especialíssima edição que inclui, entre outros extras, uma entrevista com o realizador, a análise de uma sequência (num programa do Sundance Channel) e o texto do conto de Jonathan Nolan em que o filme se baseia.
É uma renovada viagem através das ambivalências do tempo e da percepção — recorde-se que o protagonista não consegue reter as memórias próximas daquilo que lhe acontece —, agora "completada" por um desses recursos bizarros que o DVD permite. Ou seja: a possibilidade de ver o filme por ordem cronológica. Por um lado, é um absurdo, no sentido em que "renega" a construção do original (como se alguém quisesse "arredondar" as arestas das Demoiselles d'Avignon...); por outro lado, confirma que, na idade do DVD, os filmes vivem numa espécie de esquizofrenia potencial que os transforma em fixações instáveis de uma matéria sempre em evolução — apesar de todo o fascínio que o processo envolve (ou talvez por causa desse fascínio), há nele, afinal, uma perda simbólica do próprio conceito de filme.