Subitamente, chegam notícias cinematográficas da Estónia: Baile de Outono propõe-nos um desencantado relatório de paisagens (exteriores e interiores) de um modo de viver ainda marcado pelos tempos austeros da União Soviética. O filme realizado por Veiko Õunpuu foi, aliás, em grande parte rodado num bairro desses tempos, uma espécie de "cidade nova" da arquitectura soviética, tão fria nos seus traços como opressiva no seu ambiente. E se é verdade que Baile de Outono não tem forças para sustentar o paralelismo com as inspirações que evoca, a começar por John Cassavetes (há um cartaz de Love Streams "exibido" logo na cena de abertura), não é menos verdade que o trabalho global dos actores deixa uma sensação de proximidade, quase física, com alguma riqueza dramática.
O efeito de "revelação" destes lugares e personagens poderá ajudar a compreender as várias distinções que o filme já obteve, incluindo a da secção "Horizontes", de Veneza, e o prémio especial do júri, no Festival do Estoril.