O espaço das rádios é, por certo, feito de muitas diferenças e contrastes. Por isso mesmo, qualquer generalização será abusiva, do mesmo modo que abusivo será negar a existência de trabalhos muitíssimo competentes nos mais diversos comprimentos de onda. Seja como for, nada disso permite rasurar essa sensação quotidiana de que playlists e men-talidades burocráticas têm conseguido impor modelos (dominantes) de violenta normalização da música que se ouve e, mais do que isso, dos modos de a apresentar...
Recentemente, no espaço de poucos dias, fiz duas viagens re-lativamente longas (uma para o norte, outra para o sul). E ouvindo as muitas rádios que é possível sintonizar pelas estradas deste país fica-se com a sensação — certamente relativa, mas nem por isso menos inquietante — de que vivemos dominados por um império sonoro de hip hop de quinta ordem, muitas canções brasileiras de refugo e uma obstinada vontade de mostrar que a música por-tuguesa é um universo de "baladeiros" desempregados a imitar (mal) os imitadores de Bob Dylan... Tudo dominado por apresentadores (DJs, if you must) que parecem nunca ter saído da sua sala de estar a contar anedotas mais ou menos machistas para uma plateia entediada. Como se, enfim, a televisão se tivesse feito rádio.