Barack Obama e a mulher na Casa Branca? Sim, mas em pose de muçulmanos e... terroristas; na parede está um retrato de Osama Bin Landen, na lareira arde uma bandeira americana — o cartoon que serve de capa à revista The New Yorker (21 Julho) talvez não pudesse deixar de desencadear algumas reacções de desagrado, a começar pelo staff do próprio Obama.
De facto, estamos perante um caso interessantíssimo da ambivalência criativa que uma imagem pode envolver. Que é como quem diz: é preciso ler/ver o cartoon, não como uma declaração "à letra" (coisa que, em boa verdade, um cartoon quase nunca é), mas sim como uma reconversão crítica — eminentemente crítica — de outros discursos sociais, neste caso vindos dos sectores mais reaccionários da sociedade americana, numa tentativa primária de denegrir Obama. Aliás, importa referir também que a reacção do próprio candidato democrata, no programa Larry King Live (CNN), foi muito menos precipitada que a dos seus colaboradores e bastante mais disponível para a pluralidade das linguagens. Por tudo isso, esta é uma imagem que condensa de forma brilhante os poderes da iconografia — olhar o mundo e, mais do que isso, colocar em cena as contradições entre os olhares.