
Bem sei o equívoco que a pergunta suscita. Seria uma pergun-ta "contra" o filme. É verdade que o filme me parece um digest muito pouco imaginativo, repetitivo e extra-longo (mais de duas horas e meia) das componentes do universo cinematográfico de Batman, sobretudo desde o seu retorno no Batman (1989), de Tim Burton. Mas seria um infantilismo demasiado típico da Internet jul-gar que se trata de analisar filmes apenas a partir de dados finan-ceiros. Se é preciso algum esclarecimento mais subjectivo, lembra-ria que esta ditadura noticiosa das bilheteiras tem sido igualmente aplicada a pretexto de filmes que considero fabulosos — por exem-plo, o já citado Batman, Parque Jurássico (1993), Shrek (2001), etc., etc., etc.
Não se trata de "retratar" o filme através da sua performance financeira. Como não se trata de, a pretexto de tal performance, di-minuir a legitimidade (e o interesse) de algumas visões entusiastas que O Cavaleiro das Trevas tem suscitado, nomeadamente no espa-ço da crítica americana. Trata-se, isso sim, de constatar, uma vez mais, que vivemos submetidos a uma visão televisiva do cinema em que os filmes são apenas... números e estatísticas. Aliás, seguindo a mesma ideologia mediática que tenta reduzir a própria televisão a um mero vaivém de audiências e shares — em nome da pluralidade do próprio cinema, essa é uma chantagem "jornalística" à qual, mais do que nunca, importa resistir.