Em 1997, Michael Haneke filmou Funny Games na Alemanha — em jogo estava a violência, a sua representação e o seu efeito paradoxal sobre o espectador. Dez anos depois, foi aos EUA fazer um remake — porquê e para quê? Este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 Julho), com o título 'Entre violência e sedução'.
O que é, afinal, a violência das imagens? Mil vezes repetida, a pergunta tem quase sempre uma resposta moralista: separamos as “boas” das “más” imagens e confortamo-nos com a ilusão de que estamos do lado certo (é assim que funciona o infantilismo mediático dos telejornais).
Ao filmar dois jovens que ocupam, violentamente, uma casa de família, Michael Haneke não esconde a perversidade do seu jogo — afinal, o filme chama-se Funny Games (Brincadeiras Perigosas). Os agressores partilham mesmo alguns olhares cúmplices com a câmara, isto é, os espectadores. Trata-se de mostrar o que a nossa hipocrisia nos impede de dizer: a representação da violência pode envolver forte carga de sedução. Recusar tal evidência é enterrar, pelo menos, dois milénios de arte do nosso mundo ocidental.
O mais bizarro, aliás já sensível na primeira versão de Funny Games (1997), é que Haneke parece satisfazer-se com a ideia de que a percepção da violência não é... simples! Claro que não é. Mas será que isso justifica ir à América para o exercício “escolar” de copiar o seu próprio filme? Aliás, basta citar outro filme de Haneke, Caché/Nada a Esconder (2005), para lembrar que tudo isto pode ser visto e encenado com outra subtileza e eficácia. Em boa verdade, o dilema moral que Funny Games tenta equacionar já está presente num clássico como O Desconhecido do Norte Expresso (1951), de Alfred Hitchcock. E podem crer que é melhor, violentamente melhor.
O que é, afinal, a violência das imagens? Mil vezes repetida, a pergunta tem quase sempre uma resposta moralista: separamos as “boas” das “más” imagens e confortamo-nos com a ilusão de que estamos do lado certo (é assim que funciona o infantilismo mediático dos telejornais).
Ao filmar dois jovens que ocupam, violentamente, uma casa de família, Michael Haneke não esconde a perversidade do seu jogo — afinal, o filme chama-se Funny Games (Brincadeiras Perigosas). Os agressores partilham mesmo alguns olhares cúmplices com a câmara, isto é, os espectadores. Trata-se de mostrar o que a nossa hipocrisia nos impede de dizer: a representação da violência pode envolver forte carga de sedução. Recusar tal evidência é enterrar, pelo menos, dois milénios de arte do nosso mundo ocidental.
O mais bizarro, aliás já sensível na primeira versão de Funny Games (1997), é que Haneke parece satisfazer-se com a ideia de que a percepção da violência não é... simples! Claro que não é. Mas será que isso justifica ir à América para o exercício “escolar” de copiar o seu próprio filme? Aliás, basta citar outro filme de Haneke, Caché/Nada a Esconder (2005), para lembrar que tudo isto pode ser visto e encenado com outra subtileza e eficácia. Em boa verdade, o dilema moral que Funny Games tenta equacionar já está presente num clássico como O Desconhecido do Norte Expresso (1951), de Alfred Hitchcock. E podem crer que é melhor, violentamente melhor.