sábado, julho 05, 2008

Em conversa: Magnetic Fields (3/3)

Concluimos hoje a publicação de uma entrevista com Stephin Merritt, dos Magnetic Fields, que serviu de base a um artigo publicado a 26 de Junho no DN

Que assuntos ou figuras o inspiram mais a compor?
Toda uma variedade de assuntos. Mas se escrever demais sobre gente comum acabarei com vontade de escrever depois sobre extra-terrestres. E vice-versa.

O que agrada mais a si como músico. Ouvir a obra terminada? Fazer os outros ouvir a obra?
Não obtenho satisfação alguma pelo facto de terminar nada. Pelo contrário, fico deprimido assim que termino algo. Creio que isto acontece com qualquer um. Quando se termina uma licenciatura, o que acontece? Ficamos deprimidos... Pensamos que tudo acabou e que passamos a ser absolutamente irrelevantes para o resto do mundo. Na verdade já éramos irrelevantes antes de acabar o curso... Tudo é uma ilusão. Mas depois não há mais nada para fazer.

O prazer do artista tem, então, a ver com a ideia do trabalho em curso?
Teoricamente... Na verdade o prazer reside no imaginar de novos trabalhos. O resto é só agonia. Ou então o aborrecimento.

Todos os discos que gravou ditaram esse estado de depressão? Não houve excepções?
O que tento fazer é, muitas vezes, estar já a trabalhar num projecto novo quando termino outro. Porque senão sei que vou ficar com uma disposição terrível.

Tem tempos de ócio em casa, sem nada para fazer? Ou está sempre a pensar na canção que se segue?
Leio, vou ao cinema, escuto música... Não fico em casa a olhar para as paredes...

Viu algo que o tenha inspirado?
Nada... Estou a ler, inclusivamente, dois livros de que não estou mesmo a gostar. E está-se a tornar difícil continuar a lê-los. Vi um filme de que não gostei, mas não digo qual... Detestei tanto que pensei que daria um bom musical!

Acha que os musicais são todos maus?
Não estou a ver excepções... Não são todos incrivelmente estúpidos?... Se se tomassem a sério seriam extremamente aborrecidos e, então, ninguém desataria a cantar...

Viu Mamma Mia?
Não comento o Mamma Mia... Não o discuto com ninguém. Nem mesmo com a minha mãe!

Gosta de ver as suas canções na banda sonora de um filme?
Uma vez houve alguém que me disse que descobriu a minha música depois de ver o filme Tarnation. O Jonathan Caouette usou a minha canção Strange Powers no filme. Foi uma revelação estranha para mim... Creio que nunca descobri um artista dessa maneira...

Viu o filme?
Sim, e vi-o antes de saber que tinha a canção.

O que sentiu, então?
Adorei o filme. Se tivesse odiado teria saído da sala antes do fim para telefonar ao Caouette e perguntar o que a minha canção lá estava a fazer. Como gostei do filme, vi-o até ao fim e só depois telefonei a perguntar o que a minha canção lá estava a fazer...

E o realizador explicou?
Não. Nunca nenhum realizador falou comigo sobre canções minhas usadas nos seus filmes. Excepto quando me pediram, em concreto, para compor para os seus filmes. Mas frequentemente a escolha da música não tem nada a ver com os realizadores.

Depende mais de consultores...
Sim... Muitos realizadores nem querem saber. Pedem uma coisa bem disposta. E que alguém a vá procurar...