Depois de um álbum triplo de canções de amor e de um outro, com canções com título que começa pela letra “i”, o mais recente disco dos Magnetic Fields apresenta canções com outro elo comum: a distorção. Quer isto dizer que cada novo álbum de Magnetic Fields exige um conceito?
Não é assim. O que se passa é que, desde o 69 Love Songs, independentemente do que eu faça, toda a gente pensa que é um disco conceptual. Distortion não tem um tema, de modo algum. Tem, antes, um estilo de produção. Talvez use um estilo de produção mais extremo que em discos anteriores, mas que não é nada de invulgar. Excepto para mim. Por isso penso que o que une o disco como um todo é um estilo de produção. O que não é um conceito.
Mesmo não sendo a distorção um conceito, sente que precisa de uma ideia que caracterize o caminho que define o álbum para que este não seja apenas mais uma arbitrária colecção de canções?
O que gosto de fazer é ter canções que sejam de um género, mas que não tenham nada a ver umas com as outras. Enquanto, hoje, muitas pessoas escrevem canções mais parecidas. E juntam canções mais parecidas entre si num mesmo álbum. Prefiro ter variedade. E porque gosto dessa variedade procuro então algo que garanta a coesão do álbum. Penso que esta é uma boa ideia.
E como divide essas ideias pelos vários projectos em que participa?
Não sei, porque as coisas não acontecem dessa maneira. Começo por querer gravar um disco com um grupo em particular. E só depois é que procuro essa ideia. Ou seja, não procuro adaptar as ideias aos projectos com os quais trabalho.
Com uma digressão na estrada depois da edição de Distortion não se sentiu tentado a tomar o disco como um ponto de partida para o som dos concertos?
Ao vivo não soamos a nada que se pareça com o disco. A única guitarra em palco é acústica. Eu toco o bouzouki... Há piano, violoncelo... Nada de amplificadores. E por isso nada de feedback.
E porque não ligou o som do concerto ao som do álbum?
Ignoro sempre o álbum quando tenho de pensar o concerto... E isso parte de uma mesma razão: como é impossível recriar o som de um álbum ao vivo opto, antes, por reinterpretá-lo.
Foi frustrante, durante os anos 90, editar discos que acabaram relativamente ignorados? Antes do grande interesse pelos Magnetic Fields...
Não sei se haverá um grande interesse pelos Magnetic Fields...
Mas reconhece que hoje é maior que o que sentiu no passado...
Foi um processo de crescimento lento. Levou anos a construir.
(continua amanhã)