segunda-feira, julho 14, 2008

Dois veteranos para uma mesma noite

É daquelas ocasiões que nos faz querer ser como Santo António. Mas trocando o par Lisboa/Pádua por Lisboa/Oeiras, para em ambos os lugares estar em simultâneo. Dia 19, ou seja, na mesma noite, poucos quilómetros vão separar duas actuações de veteranos há muito aclamados e respeitados pelo mundo fora. Lou Reed leva ao Campo Pequeno (Lisboa) um concerto essencialmente centrado nas canções de Berlin, álbum de 1973 que mergulha em histórias de depressão, consumo de drogas e outras sombras. Perto de Oeiras, no Passeio Marítimo de Algés, a noite fica por conta de Leonard Cohen, que regressa a Portugal 20 anos depois de uma digressão que fez história e numa ocasião que é dada como eventual última oportunidade para o ver em palco. A escolha não é fácil. Ambos são ícones de primeira linha. Lou Reed actua, na noite seguinte em Loulé, em concerto integrado no cartaz musical do programa Allgarve. Ajuda?...

Ambos são veteranos (Cohen com 73 anos, Reed nos 66), com carreiras encetadas ainda na década de 50. Cohen começou nas letras, tendo já livros publicados (alguns de poesia e dois romances) quando a música ganhou estatuto de protagonismo na sua obra. Lou Reed, por seu lado, foi "animal" rock'n'roll desde sempre, tocando em bandas doo wop e gravando versões de êxitos para jukeboxes desde 1958. A poesia, curiosamente, passou também pela sua formação. Delmore Schwartz, nos seus últimos anos de vida, foi mentor com enorme impacte na formação do músico.
Curiosamente o primeiro disco marcante de ambos data de 1967. Reed na estreia dos Velvet Underground (Velvet Underground & Nico), o álbum "pai" de toda a pop/rock cultura independente. Cohen lançando The Songs Of Leonard Cohen, primeiro álbum que desde logo vincou uma postura autoral de poética invulgarmente literária, mas não menos cuidada na composição. A obra musical de ambos cresceu, regular, sem grandes hiatos, fez-se vasta, importante e influente. Com os Velvet Underground e, mais tarde, em álbuns como Transformer (1972), Berlin (1973), New York (1989) ou The Raven (2003), Lou Reed assinou alguns dos mais significativos episódios da história do rock'n'roll. Por seu lado, Leonard Cohen seguiu trilhos que o álbum de estreia desde logo ditou, com pontuais furas à norma em instantes como, por exemplo, a colaboração com Phil Spector em Death Of A Ladies Man (1977) ou o fugaz flirt quase pop com os sintetizadores em I'm Your Man (1988) e em alguns pontuais episódios posteriores. No ano passado a sua poesia gerou uma colaboração com Philip Glass em Book Of Longing, baseado num livro de poemas que agora é lançado entre nós.
O cinema documental já visitou os dois. E nos últimos anos vimos o mundo de Cohen e seus fãs em I'm Your Man, de Lian Lunson. Por seu lado, Julian Schnabel captou a presente digressão de Lou Reed em Lou Reed's Berlin.

Ao longo desta semana vamos visitar ambos os músicos e as suas obras. Começamos com algumas entre as imagens recentes de ambos...



Este é o teledisco que Michelle Civetta criou para Ecstasy, o tema título do mais recente álbum de canções originais de Lou Reed. Depois deste disco, Reed editou já um álbum duplo, mas de estrutura conceptual, entre a poesia e a canção, e baseado em The Raven, de Edgar Allan Poe.



E estas são imagens do acima citado I’m Your Man, filme sobre Leonard Cohen. Esta é a sequência final do filme, na qual vemos Cohen, juntamente com os U2, numa nova versão do seu clássico Tower Of Song.

PS. Este post inclui a versão editada de um texto publicado no DN a 13 de Julho