
Será que, subitamente, uma publicação tão conservadora ou, se preferirem, tão "centrista" como
The Economist se tornou anti-europeia? Não é esse o caso. Se olharmos serenamente para todos os elementos da capa da sua edição com data de 21 de Junho, compreendemos que se trata de
enterrar, não a União Europeia, mas apenas... o Tratado de Lisboa (sendo este "apenas", como é óbvio, um gigantesco problema político). Aliás, a leitura do artigo que justifica a capa é esclarecedora — a sua apresentação é inequívoca: "É tempo de aceitar que o Tratado de Lisboa está morto. A União Europeia pode muito bem
continuar sem ele."
Dito isto, importa sublinhar a fascinante contradição simbólica em que
The Economist incorre — contradição por certo consciente e inteligente, acrescente-se. Trata-se, afinal, de criar uma imagem cuja
polissemia desencadeie um misto de hesitação e perplexidade no próprio leitor. Se isso ajudar a pensar uma Europa menos dependente das simplificações dos seus burocratas e mais atenta à pluralidade das suas populações... tanto melhor. Seja como for, esta capa é um grande acontecimento jornalístico.