Corre que o novo Songs In A & E é um disco nascido depois da hospitalização a que foi submetido, de urgência, em 2005. Mas na verdade muitas das canções já existiam antes desse episódio...
Este não é um disco sobre a doença nem sobre a passagem pelo hospital, se bem que essa seja parte da história. Uma das razões pelas quais o disco levou tanto tempo a aparecer deve-se à doença. O que foi um ano... Mas outra das razões que atrasou o disco foi o facto de não ter editora. E isso faz com que a história seja diferente do que está a ser contado.
É fácil ver uma história mais drástica a correr pelos media...
Sim, é verdade. Mas essa é a natureza dos media... E tentam fazer parecer que as canções se relacionam com a doença. O que me parece estranho...
A doença fê-lo encarar de outra forma as canções que já tinha composto antes de ser hospitalizado?
O que fez foi com que tudo se tornasse mais difícil, sobretudo porque me tinha já afastado das canções. Mas sentia, ao mesmo tempo, que as não podia deixar de lado. Havia demasiadas coisas naquelas canções para justificar que não as deveria abandonar. Por um lado queria fazer algo novo, mas não podia ignorar aquelas canções que já tinha composto.
Teria sido emocionalmente mais fácil para si compor e gravar canções completamente novas? E só, eventualmente, mas tarde regressar a estas?
Não, seria ainda pior. Quanto mais longa a espera, pior.
Como deu depois a forma final a um disco que teve uma gestação tão longa e fragmentada? Usou os instrumentais como pontes de ligação?
Não foi assim tão simples. Os instrumentais não são exactamente peças de ligação, porque na verdade estão imersos nas próprias canções. Os instrumentais são quem define a atmosfera emocional do disco e as canções brotam deles. Fazer um disco não é para mim apenas um processo de gravar canções e instrumentais e depois ordená-las... Dessa maneira não funcionaria para mim. As canções têm de encontrar o seu espaço, o seu lugar.
Gosta de pensar a ordem do alinhamento de canções num disco como uma sequência de elementos numa peça sinfónica?
É difícil para mim dizer que assim é... Tento que as canções todas funcionem em conjunto como se fossem, depois, uma peça única. Que se relacionem num todo dessa maneira.
Há uma série de imagens recorrentes nos seus discos. Podemos chamar-lhe obsessões. Uma delas tem a ver com os universos da farmácia... A capa de Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space parecia uma caixa de comprimidos. A do novo álbum tem novamente design aparentado com o das caixas de medicamentos. A quem receitaria, então, este disco?
É difícil... Pode ser para todos. Podemos pensar num disco como para sendo para qualquer um. Há discos na minha colecção pessoal que fazem sentido para mim e não interessam a outras pessoas, eu sei. Este pode ser receitado para qualquer pessoa. Pode não fazer falta hoje, ou talvez nunca, mas isso não me preocupa.
(continua amanhã)