Esta fotografia está no site da UEFA, ilustrando um texto sobre o jogo Portugal-Alemanha. Excelente imagem! Mas, ao mesmo tempo, pela sua reprodução (incluindo aqui, hélas!), imagem que ilustra bem a condição tendencialmente instrumental em que vivem alguns ícones ditos "famosos": num dia, servem para promover uma qualquer simbologia primária; no dia seguinte, são utilizados para ilustrar o exacto oposto — de eterno "vencedor" a trágico "vencido", Cristiano Ronaldo é, do ponto de vista da iconografia dominante, um ser vazio e intermutável. Tenho pena dele — da sua impotência simbólica face ao universo mediático que, hipocritamente, o idolatra.
O dia tem sido, aliás, revelador. Não é preciso procurar muito para ler (e ouvir) as drásticas mudanças de alguns que, em última instância, dão péssima fama a um trabalho tão nobre como é o jornalismo. Assim, entre os que proclamavam que a Alemanha estava perfeitamente "ao nosso alcance", há os que vêm agora esclarecer, sem pestanejar ou, pelo menos, sem gaguejar (com o devido respeito pelos gagos), que não é possível ganhar sem resolver a "eterna" questão de nos faltarem "homens de área" ou de termos um guarda-redes que "não sabe sair dos postes". E já nem se trata da questão anedótica de saber onde é que estavam tão doutos analistas nas vésperas do jogo com a Alemanha — seria interessante perceber como (e, já agora, porquê) levaram cinco anos até se decidirem a falar, simplesmente, de... futebol!
Porque, de facto, é isso que está em jogo. É a irrisão de um discurso "patriótico" que se apoia em dois miseráveis enunciados ideológicos: primeiro: "vamos ganhar"; segundo: "os outros são todos uns toscos". Do espaço do desporto à cena política, os protagonistas de semelhante caricatura do patriotismo preparam-se para entrar no mais grosseiro discurso de luto: o de que perdemos "com dignidade". No nosso contexto, dignidade é mesmo a derradeira impostura para quem não consegue admitir que os outros, coitados, até podem ter boas equipas de futebol.