domingo, junho 29, 2008
A arte de comunicar
Uma das mais bem sucedidas compositoras de todos os tempos, a norte-americana Joan Tower (n. 1938) tem uma longa carreira que tem conciliado o ensino da música com o trabalho criativo, com várias residências já assinadas em orquestras e centros (neste momento estando ligada à Chamber Music Society do Lincoln Center). Em 2001 foi desafiada por um fundo de apoio a 65 pequenas orquestras norte-americanas (financiado pela Ford) a criar uma obra que todos esses músicos pudessem tomar como sua e apresentar pelas salas de concerto de todo o país. Assim nasce Made In America, um assombroso exemplo de capacidade de comunicação através da música e, acima de tudo, raro exemplo de adaptação da forma à função e seus executantes por parte de um compositor. Ciente do desnível de preparação que encontraria entre os muitos músicos destas 65 orquestras, sabendo entre eles haver muitos amadores com horas de trabalho antes das noites de ensaio, e não menos atenta à diversidade de públicos para quem esta obra seria dirigida, Joan Tower criou uma peça concisa, claramente americana na identidade (com o hino “não oficial” America The Beautiful como inspiração) e inevitavelmente cativante. Made In America é um interessante exemplo da vontade de comunicação do compositor com quem o interpreta e quem o escuta. Traduz contemporaneidade, sugere o contexto e, acima de tudo, cumpre a missão de servir espaços adiante dos circuitos mais restritos e fechados nos quais muita da produção é pensada, estreada e, frequentemente, arrumada. Uma atitude quase pop, que em nada afasta a autora da sua linguagem, viva, plena de interesse pelo ritmo, como se verifica nas duas outras peças integradas neste disco: Tambor (de 1998) e Concerto Para Orquestra (1991). O disco representa ainda mais uma manifestação do fundo de apoio à música criado pela mesma companhia que desafiou a criação da obra que aqui, pela Sinfónica de Nashville (uma das 65 orquestras deste programa), conhece primeira gravação.