
Arta Dobroshi. Fixem o nome. Nascida no Kosovo, interpreta no filme
Le Silence de Lorna, de Luc e Jean-Pierre Dardenne, uma jovem albanesa que tenta garantir a sua sobrevivência: primeiro, casando com um toxicodependente de modo a adquirir a nacionalidade belga; depois, divorciando-se dele para casar com um russo, desse modo tentando ganhar dinheiro para montar um negócio com o seu verdadeiro namorado... E uma teia dificil de resumir, prolongando esse misto de transparência e mistério, assombramento e redenção, que define o cinema dos irmãos Dardenne.

A especulação justifica-se: será que os Dardenne [em baixo, com a sua actriz] se podem transformar nos primeiros a ganhar três Palmas de Ouro em Cannes? Recorde-se que foram distinguidos em 1999 e 2005, respectivamente com
Rosetta e
A Criança. Enfim, a questão principal é de outra natureza. Tem a ver, como é óbvio, com o facto de os Dardenne serem os inventores de um mundo formal que possui a coerência ambígua de um mapa dramatúrgico — tudo nos parece cientificamente ordenado e, ao mesmo tempo, o que eles filmam é a prodigiosa agitação da condição humana, essa contínua proximidade entre a vibração da vida e a nitidez da morte. Arta Dobroshi transforma-se, por isso, numa parente cinematográfica de Émilie Dequenne (
Rosetta) — partilhamos o seu medo e, numa história de tanto negrume, também a sua esperança.
.jpg)