domingo, abril 13, 2008

Resposta a um sonho antigo

Ernest Bloch (1880-1959) foi, apesar de nascido em Genebra (Suíça), um importante compositor norte-americano da primeira metade do século XX. Estudou em Bruxelas, Frankfurt e Paris antes de se mudar para os EUA em 1916, onde obteve cidadania em 1924, residindo inicialmente em Cleveland, onde foi o primeiro director do recentemente formado Cleveland Institute of Music. Passou os anos 20 na Suíça e regressou definitivamente aos Estados Unidos em 1941, encontrando nova morada no Oregon, à beira mar. As suas primeiras obras, anteriores à chegada aos Estados Unidos, reflectiam influência de escolas alemãs e também sinais de curiosidade pela obra de Debussy. É nos anos 20 que a sua obra ganha consistência, revelando interesse evidente pelas tradições litúrgicas e folk da música judaica. O disco agora editado reflecte contudo outros horizontes, claramente mais pessoais. As obras centrais aqui registadas são os seus dois Quintetos para Piano, um deles composto em 1923, com o subtítulo Cleveland. O segundo, tardio, data de 1957, composto já por um homem assolado pela doença. No primeiro habita uma tensão permanente, um sentido de curiosidade viva, de desejo em viajar por um Pacífico e as ilhas de climas quentes com que sonhava (e nunca visitou), quase capaz de traduzir imagens, como se de banda sonora de um film noir se tratasse. O segundo, talvez menos conhecido, traduz um sentido de profunda melancolia (e inevitável resignação) de quem, à beira das águas do Pacífico, dá por não concretizados os sonhos expressos na peça composta 34 anos antes. Três curtos quartetos de cordas completam, depois, o alinhamento de um álbum (lançado pela Hyperion) que tem colhido elogios e que devolve aos escaparates obras hoje pouco tocadas de um compositor longe de figurar entre os habitualmente mais citados do seu tempo. Interpretam as obras de Bloch o pianista Piers Lane e o Goldener String Quartet. Todos eles australianos. Ou seja, talvez capazes de responder, com conhecimento de causa, aos sonhos de Bloch...