Passam hoje cem anos sobre a data do nascimento do maestro Herbert Von Karajan (1908-1989), figura controversa, longe de unânime mas, sem dúvida, um dos rostos maiores da história da música do século XX. Austríaco, nascido numa família da alta burguesia de Salzburgo, cedo tomou consciência do seu talento, carisma, despotismo e... ambição, características que usou em favor de uma carreira à qual dedicou toda uma vida com um empenho que trouxe resultados. Do seu passado nos anos 30, ainda na Áustria, ficam turvas memórias de um relacionamento com a ideologia nazi que o próprio nunca depois da guerra discutiu nem esclareceu. Opções políticas que tiveram em vista uma conquista de poder (no meio artístico e editorial, sublinhe-se) que, mesmo tendo assombrado pontuais episódios posteriores a 1945 (como na primeira visita aos EUA em 1955 ou na sistemática recusa de Israel em receber a “sua” orquestra), não travaram uma ascensão ainda mais visível da sua presença no meio da música clássica.
De certa maneira, e sobretudo entre os anos 50 e 80, Karajan era para o cidadão comum o “rosto” da música clássica. A sua popularidade em concerto, a presença constante nos escaparates das novidades editoriais, o enorme sucesso das suas gravações (chegou a representar um terço das vendas do catálogo da Deutsche Grammophon) e a invulgar mediatização da sua figura (a pública e, com evidente critério de bom marketeer, a privada), dele fizeram uma presença incontornável. Sobretudo nos 35 anos em que conduziu a Orquestra Filarmónica de Berlim (de 1954 a 1989), na qual foi sucessor de Wilhelm Fürtwangler. Os momentos maiores da sua obra passam, além desta orquestra, pela Ópera de Viena (que dirigiu entre 1955 e 64) e pelo Festival de Salzburgo (que também dirigiu e para o qual ordenou a construção de nova sala). Karajan foi também figura de presença fulcral no seio da indústria do disco. Tanto que, quando chegou a hora do CD, foi consultor do patrão da Sony durante o desenvolvimento (e, depois, mediatização) do novo formato. Tanto que o CD acabou por aceitar uma exigência do maestro: que acolhesse os 70 minutos da “sua” 9ª Sinfonia de Beethoven... Assim foi. A segunda imagem deste post recorda, de resto, a presença de Karajan na conferência de imprensa de apresentação do CD.
Os escaparates nas lojas não deixam escapar a ocasião. A Deutsche Grammophon e a EMI Classics, que detém a fatia maior de uma obra gravada de quase 900 títulos, disponibilizaram já este ano grande parte do seu catálogo Karajan. A EMI com, sobretudo, caixas comemorativas (uma delas com 159 CD). A Deutsche Grammophon tem reeditado títulos de referência, óperas e integrais sinfónicas em DVD e, no seu site, tem a discografia de Karajan disponível para download. No Japão, a editora lançou uma caixa de 240 discos. A Sony reeditou as gravações dos anos 80, assim como um registo histórico, dos anos 50, com o pianista Glenn Gould.
Para recordar, com som + imagem, aqui fica uma gravação de 1985 da Egmont Overture, de Beethoven, pela Filarmónica de Berlim, dirigida por Karajan.